tese-livre-docencia-Jorge-Machado
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2. Protocolos e softwares<br />
softwares <strong>livre</strong>s e formatos de arquivos abertos — que ao mesmo tempo em que facilitam a<br />
difusão de conteúdos, colocam os mesmos fora de seu controle dessa indústria. Não por acaso,<br />
nenhuma delas apoia ou participa de organizações e projetos como a ODF Alliance, OASIS,<br />
OSI, FSF ou W3C. Por outro lado, empresas como a Microsoft não apenas boicotam protocolos<br />
abertos, ao não oferecer a interoperabilidade como padrão, como também tem um modelo<br />
de negócio baseado no oferecimento de sua plataforma para formatos não proprietários.<br />
A obscuridade do código do software e dos arquivos em formatos proprietários não apenas<br />
colocam em risco a segurança e a privacidade, como também constituem um obstáculo ao<br />
desenvolvimento e disseminação de tecnologias, projetos, iniciativas e inovações que caracterizam<br />
as nascentes práticas colaborativas.<br />
Nesse contexto, vê-se claramente o conflito entre práticas bem distintas. Um mundo<br />
proprietário, baseado na dependência e aprisionamento do usuário, visto apenas como um<br />
consumidor desprovido de conteúdo crítico. De outro, tecnologias e protocolos abertos, liberdade<br />
de cópia e modificação com base na auto-organização de comunidades descentralizadas<br />
e autônomas.<br />
Entre esses extremos, existe um meio: novos modelos de negócios baseados na economia<br />
colaborativa do conhecimento aberto — chamada de “Wikinomics” por Tapscott & Williams<br />
(2006), ou de “Economia da informação em Rede” por Yochai Benkler (2006) —; em<br />
crowdsourcing, crowdfunding e open innovation. Nesse ambiente, surge uma economia baseada<br />
não apenas no ganho econômico, mas frequentemente ancorada em práticas sociais, tecnológicas<br />
e ecológicas mais éticas.<br />
Cabe dizer que o software <strong>livre</strong>, antes de um movimento técnico, é um movimento político<br />
— assim se tornou nos últimos anos, com a demanda por emancipação social, pelas ameaças<br />
à privacidade e pela vigilância global. Obviamente que sua expansão junto à população<br />
sofre restrições por exigir um conjunto de conhecimentos e uma dedicação que a maior parte<br />
dos cidadãos não possuem. Por sua transparência e eficiência, o software <strong>livre</strong> conquistou um<br />
grande espaço junto às empresas, a ponto de dominar completamente o segmento de servidores<br />
e estar na imensa maioria dos supercomputadores. Pelo seu êxito empresarial não se repetir<br />
junto aos usuários domésticos, sua dimensão política acaba obscurecida. Mas, a medida de<br />
dificuldade da expansão do SL no ambiente doméstico tem equivalência nos desafios que o<br />
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