tese-livre-docencia-Jorge-Machado
tese-livre-docencia-Jorge-Machado
tese-livre-docencia-Jorge-Machado
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
1. Infraestrutura e design<br />
Um de seus membros antigos, de Belo Horizonte, parece ir nessa linha ao discorrer<br />
sobre o sentido da Metareciclagem:<br />
A solução espiritual frente à angústia causada pela crescente voracidade de consumo de aparelhos<br />
tecnológicos é o desapego. Doar, compartilhar, consertar e botar para funcionar é o caminho<br />
para a ascensão tecnoespiritual. (…) Vez ou outra surgem essas ideias “do bem”, que crescem<br />
escondidas e à parte da atenção das pessoas. Ninguém sabe direito como nascem, qual a sua<br />
origem, para onde vão ou quem está por trás delas. Isso não é muito importante. A Metareciclagem<br />
é uma dessas ideias. Quando comecei a me interessar e pesquisar sobre o tema, percebi que<br />
já havia várias ideias e projetos surgindo em diversos cantos do país que buscam se apropriar de<br />
tecnologias para mudanças sociais.<br />
É natural que esse tema se misture ao de inclusão digital, embora não esteja necessariamente<br />
limitado por ele. Uma das principais razões dessa distinção é exatamente por onde<br />
começa a mobilização. Enquanto a inclusão digital está mais ligada a políticas governamentais,<br />
a Metareciclagem já parte do sempre atual “faça você mesmo”. Das Zonas Autônomas Temporárias,<br />
40 às questões da inteligência coletiva, a metafísica das redes P2P-todos-para-todos:<br />
Hakim Bey lança para Pierre Lévy que toca e deixa McLuhan de cara para o gol.<br />
Adicione a esse debate também o movimento do software <strong>livre</strong> que parece ganhar força no<br />
país. A equação pode ser interessante. Computadores reutilizados + software <strong>livre</strong> + coletivos<br />
organizados e movimentos sociais = ? (Rosa, 2007)<br />
A reflexão de Sérgio Rosa, feita há nove anos, toca no ponto central: a relação entre<br />
diferentes movimentos que buscam compartilhar e apropriar-se de tecnologias abertas para<br />
promover justiça social, direitos e participação.<br />
As tecnologias e padrões abertos e <strong>livre</strong>s se encaixam perfeitamente como meio de<br />
apoio a estruturas horizontais, colaborativas e abertas dos novos movimentos sociais. Deste<br />
40 Zonas Autônomas Temporárias, conhecido por sua sigla T.A.Z. (do inglês Temporary Autonomous Zone) é<br />
um dos livros mais notórios escritos por Hakim Bey (pseudônimo de Peter Lamborn Wilson, intelectual<br />
anarquista e ambientalista) em 1985. TAZ são espaços temporários que iludem estruturas formais de<br />
controle. Wilson/Bey usa exemplos da história e da filosofia para demonstrar que a melhor maneira de criar<br />
um sistema não hierárquico de relações sociais é concentrar-se no presente e liberar a mente dos mecanismos<br />
de controle que lhe foram impostos.<br />
Um novo território do momento é criado, na linha de fronteira das regiões estabelecidas. Qualquer tentativa<br />
de permanência que vai além do momento deteriora a um sistema estruturado que, inevitavelmente, sufoca a<br />
criatividade individual. Essa chance de criatividade seria o empoderamento real dos indivíduos.<br />
Mais tarde, Bey expandiu o conceito para além do seu caráter “temporário”, reconhecendo que nem todas as<br />
zonas autônomas existentes são totalmente “temporárias”, e propôs a noção adicional de Zona Autônoma<br />
Permanente (Wikipedia, 2015f).<br />
87