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3. Conteúdos<br />

Criados para durar inicialmente 14 anos, os direitos autorais hoje raramente têm proteção<br />

inferior aos 100 anos na maioria dos países — principalmente pela introdução da transmissão<br />

de direitos ao herdeiro após a morte do autor, como ocorre no Brasil. Como resultado<br />

disso, o monopólio temporário criado para estimular a criatividade do autor extrapolou até o<br />

limite de sua morte.<br />

Nos Estados Unidos, país cuja legislação afeta o resto do mundo, a primeira alteração<br />

foi em 1831. O período inicial de copyright foi elevado de 14 para 28 anos, mantendo outros<br />

14 anos para o caso de renovação. Em 1909, o Congresso ampliou a duração do período de<br />

renovação, de 14 para 28 anos, fazendo alcançar um período máximo de 56 anos. A partir de<br />

1962, por onze vezes, o Congresso norte-americano ampliou o período de duração do copyright<br />

(Lessig, 2004: 120). Isso ocorria sempre que o Mickey Mouse ia cair em domínio<br />

público. Apesar desse sucessivos aumentos, como 85% dos detentores deixavam de solicitar a<br />

renovação, em 1973, o período médio de duração dos copyright era de apenas 32,2 anos. Na<br />

última reforma, em 1998, através da Lei Sonny Bono, o Congresso norte-americano ampliou<br />

para um período único de 120 anos, extinguindo a renovação. 98 Como resultado da mudança<br />

da lei, os direitos autorais após a morte do autor foram ampliados de 50 para 70 anos, caso o<br />

direito fosse propriedade de uma pessoa, e de 75 para 95 anos, caso o direito fosse propriedade<br />

de uma empresa.<br />

O aumento do tempo de monopólio do direito autoral nos EUA tem o efeito perverso de<br />

fazer aumentar o tempo dos demais países, através de mecanismos multilaterais de negociação<br />

no âmbito da OMC, onde os EUA desempenha uma grande influência. Isso é chamado de<br />

“harmonização” da leis.<br />

Curiosamente, durante a maior do século XIX, conforme relata Jason Epstein (Epstein,<br />

2005: 96-97), um dos mais renomados editores norte-americanos, os Estados Unidos, com<br />

poucos autores e uma enorme indústria tipográfica para defender, ignorava o copyright interda<br />

Universidade de São Paulo, que estavam esgotados, mas não podiam ser legalmente copiados (ver<br />

Craveiro, <strong>Machado</strong> & Ortellado, 2008).<br />

98 O aumento gradual do tempo de proteção ocorreu por pressão de corporações que detinham os direitos de<br />

produzir cópias num sistema monopólico. Conglomerados como Disney, Paramount Pictures, Time Warner,<br />

Viacom e Universal, que antes da aprovação da lei já haviam concedido US$ 6,5 milhões a políticos do<br />

Congresso, deram o generoso apoio de US$ 1 419 717 aos senadores que apresentaram a lei aprovada<br />

(Landes & Posner, 2004: 16; Shecter, 1998). Desta quantia, US$ 800 mil foram pagos pela Disney (Lessig,<br />

2004: 215) que assim conseguiu evitar que personagens como Mickey, Pluto e Pato Donald caíssem no<br />

domínio público (Ortellado, 2002).<br />

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