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ICOM International Council of Museums - Museo Estancia Jesuitica ...

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Cury: O visitante como sujeto da exposição<br />

Um sujeito se faz na relação com o outro, nos fazemos sujeitos na interação com<br />

outros sujeitos, isto porque a comunicação provoca o estabelecimento de vínculos e<br />

os vínculos só são possíveis com a comunicação de sentidos. Assim, a recepção não<br />

é um ato isolado e sim compartilhado. A comunicação é uma construção dialogística,<br />

fundamentada em vínculos de afetividade e não em vínculos artificiais e/ou de<br />

submissão. Melhor dizendo, não somos sujeitos sozinhos e não (re)significamos<br />

sozinhos, nós (re)significamos com outros: é uma atuação mútua e compartilhada<br />

entre o público entre si e entre o público e o museu (seus pr<strong>of</strong>issionais).<br />

Longe de propormos frases de efeito sobre o processo de democratização dos<br />

museus, para serem repetidas, apontamos o que consideramos ser o desafio dos<br />

museus contemporâneos no que se refere à perspectiva comunicacional, entendendo<br />

o pleno direito de cada cidadão de participar da dinâmica cultural (e<br />

conseqüentemente da dinâmica da cultura material) ressignificando.<br />

Vendo a partir de outro ângulo, podemos dizer que há três participações unidas entre<br />

si: a leitura, a interpretação e a recriação. São três ações distintas que ocorrem<br />

sucessivamente e são indissociáveis: não há leitura sem interpretação (do contrário,<br />

não houve leitura de fato) e não há interpretação sem leitura (que é o que possibilita a<br />

interpretação) e a interpretação em si é recriação. À leitura e à interpretação unimos a<br />

(re)significação. Essas ações são indissociáveis na recepção realizada por indivíduossujeitos,<br />

agentes do processo comunicacional. A significação não é fixa ou singular,<br />

mas fluida e plural.<br />

O museu é o espaço de inúmeros sujeitos, do passado e do presente, daqui e de<br />

outros lugares, de culturas diferentes, com o mesmo ponto de vista ou com<br />

divergentes e diferentes posições.<br />

Ao admitir que há um sujeito, muitos outros aparecem. Como já dissemos, somos<br />

sujeitos porque ressignificamos e não somos sujeitos sozinhos. Somos, então, todos<br />

sujeitos. São sujeitos do processo de comunicação museológica o criador e os<br />

usuários dos objetos e os agentes da musealização − o coletor, o pesquisador, o<br />

conservador, o documentalista, o museólogo, o educador e, não finalmente, o público.<br />

Fazemos notar que o público, nesta perspectiva, é agente do processo de<br />

musealização, pois sendo um ciclo de ações (e não uma seqüência linear), o processo<br />

se fecha (sem se completar) na recepção.<br />

Os estudos de público em museus ganham, assim, uma nova dimensão. “A<br />

importância da investigação [de recepção], portanto, reside na captação dos diversos<br />

significados atribuídos à exposição pelos visitantes” (VALENTE, 1995, p. 125), isto<br />

para lembrar-nos que muitos outros sujeitos atribuíram significados aos objetos<br />

expostos, além de nós, os pr<strong>of</strong>issionais. Também, para nos conscientizar de que a<br />

presença do público nos museus é mais importante e complexa do que poderia supor<br />

os modelos comunicacionais condutivistas.<br />

Mas, o que define o lugar social do museu?<br />

Vários elementos: seu acervo, sua política cultural/de comunicação, a gestão, a<br />

equipe, a localização, o prédio, os arredores, o orçamento ...<br />

E o que dá corpo social ao museu?<br />

Os objetos museológicos e os sujeitos − interno e externo em reciprocidade.<br />

Não restam dúvidas que os museus devem − e vêm fazendo isto − dedicar-se ao<br />

estudo e conservação de seus acervos. Não há questionamentos quanto a isto. Há<br />

ainda, no entanto, uma certa dificuldade em inserir a fala do público no processo<br />

curatorial. Os museus ainda não estão sabendo legitimar esse processo e, para isto,<br />

dependemos de uma aproximação com o público. Quanto mais nos voltamos ao<br />

público, mais aprendemos com ele e mais o valorizamos como sujeito. Ao valorizar o<br />

público nos valorizamos também como sujeitos do processo museológico.<br />

Há reciprocidade entre o pr<strong>of</strong>issional e o público, uma vez que o “sucesso do processo<br />

de comunicação ocorrerá se ambos os extremos participarem ativamente, pois uma<br />

boa exposição será aquela em que as respostas dos visitantes são tão criativas<br />

quanto a proposta da equipe do museu” (JANINI, 2002, p. 19).<br />

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