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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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perpétua”, deram ao povo sonhos e a vontade de viver livre (“o alucinatório,/ a insubmissão”),<br />

germinando então nas rosas “o sobrenatural”, sendo por isso considerados os “inventores/ [...]<br />

da rosa”. É por causa dessa fascinação pelas rosas que, quando algo é bom, acaba por<br />

florescer, ou seja, nascer como uma rosa, como acontece em “floração de luas/ na lagoa<br />

distante” ou no trecho: “floresciam as cidades como luzes/ de eterna memória”.<br />

Por inúmeras vezes, temos a presença dos símbolos florais em situações<br />

discordantes da realidade, o que mostra que tais elementos não devem ser tomados<br />

denotativamente. Observemos este exemplo retirado de “Ode ao Vencido”:<br />

Ao sol do teu infortúnio sem memória,<br />

os pássaros sofrem, a água se inflama,<br />

os lírios se entristecem como enfermos. (MS, p. 33)<br />

A aparição dos lírios no trecho acima não tem a significância real de flores; o<br />

próprio momento em que eles surgem evidencia o caráter metafórico de sua colocação no<br />

verso. Em um ambiente de desespero, em que a intranqüilidade povoa todo o ser do eu lírico,<br />

temos vários vocábulos que denotam as situações mais angustiantes: “sofrem”, “inflama” e<br />

“entristecem”. Os lírios, enfermos, demonstram o estado de espírito em que este eu lírico, o<br />

vencido, deveria se encontrar.<br />

O lírio é um forte símbolo, denotando sempre a pureza. É o que acontece, por<br />

exemplo, em “Canção de Núpcias”, em que o eu lírico do poema, na manhã do seu primeiro<br />

dia de casado, fala: “Quando a manhã bateu à nossa porta,/ solene perguntei: ‘E os lírios?’”<br />

(LP, p. 51), indicando o casto momento por ele vivenciado e evocando a beleza do dia.<br />

Quando o eu lírico apresenta um estado de espírito conturbado, quando o poeta depreende<br />

injustiças e atrocidades no mundo, temos então os maus tratos para com os lírios, como ocorre<br />

em “Solidão dos Corpos”, em que a voz do poema, percebendo a falta de afeto entre os seres<br />

humanos e a necessidade do contato corporal que o amor promove, diz: “Pés pisando o<br />

mesmo/ asfalto, o mesmo lírio” (LP, p. 69); ou em “Canto da Insubmissão”, em que o eu<br />

lírico, assumindo as dores do mundo, fala, na primeira pessoa do plural, que eles, no caso, são<br />

“lírios/ de luto brotando num jardim de tufas” (LP, p. 109).<br />

109<br />

Mas não só o lírio é o símbolo da beleza. A flor é o signo por excelência usado por<br />

Rivera, também aparecendo como o lírio, de acordo com o que se está sendo apresentado.<br />

Vemos, por exemplo, em “Salga dos Inconfidentes” uma alusão ao que o governo fez nas<br />

posses de Joaquim José da Silva Xavier, o famoso Tiradentes:

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