11.04.2013 Views

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

poeta que tentou retratar em seus poemas um ambiente místico e surreal. Ambos recebem os<br />

influxos simbolistas bastante presentes nas letras mineiras, especialmente pela produção e<br />

fama de amplitude nacional atingida pelo pai de Alphonsus de Guimaraens Filho. Realizando<br />

uma poesia de vertente humanista, que nos transmite de maneira inovadora e sentimental uma<br />

melancolia particular, Alphonsus de Guimaraens Filho é, sem dúvida, modernista, tendo<br />

recebido de Alphonsus de Guimaraens tão somente esse lado metafísico peculiar ao<br />

movimento a que pertencia. Alphonsus de Guimaraens Filho traz, então, essa linguagem<br />

hermética, similar também ao que foi feito na segunda fase modernista por poetas como<br />

Drummond e Murilo Mendes. Ótimos de serem lembrados são os primeiros versos de<br />

“Chovia Quando Saiu o Enterro”, poema em que temos uma visão particular diante de<br />

determinado acontecimento pelo eu lírico vivenciado:<br />

Chovia quando saiu o enterro.<br />

Eram cinco horas da tarde em Ouro Preto.<br />

Chovia. Uma chuva fina, fina garoa, sobre os telhados escuros e as ruas<br />

[silenciosas,<br />

enquanto no casarão noturno perpassava, sem que ninguém notasse,<br />

a sombra do enforcado.<br />

Chovia. Uma chuva de remorso e raiva, uma chuva antiga,<br />

de outra tarde,<br />

de outro tempo. Chovia em Ouro Preto, quando saiu o enterro. 35<br />

Mistura de idealizações e realidade, o poema nos remete a um ambiente fantástico,<br />

onde os sentimentos do eu lírico são expostos em meio a um acontecimento natural. Os três<br />

primeiros versos não trazem nada de diferente do comum, relatando apenas o episódio do<br />

enterro que aconteceu e a chuva que se deu no mesmo momento. Contudo, os demais versos<br />

que se seguem encaixam os fatos em um meio onírico, dada a retratação da percepção do eu<br />

lírico, como na “sombra do enforcado” por ele vista (ou sentida), e nessa “chuva de remorso e<br />

raiva”, uma chuva diferente, “de outra tarde/ de outro tempo”.<br />

Assim como Alphonsus de Guimaraens Filho, que no poema citado entrelaça<br />

realidade e sentimentalismo, retratando um possível conhecido seu agora morto, também<br />

Rivera, em vários poemas, apresenta essa atitude, originando versos de teor intimista, como<br />

quando profere: “As perdidas casuarinas no crepúsculo vago,/ lembrança de mortos no soluço<br />

do vento” (MS, p. 50), para falar sobre várias pessoas que já morreram, ou quando fala em<br />

Tiradentes, indicando ser este um “Morto errante que ninguém/ tem coragem de enterrar”<br />

35 GUIMARAENS FILHO, Alphonsus. In: BRASIL, Assis. A poesia mineira no século XX. p. 93<br />

31

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!