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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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Um dos poucos poemas de Rivera que seguem a métrica formal, “Permanência do<br />

Herói” é feito em redondilha maior. Traz ele, realisticamente, o momento em que o corpo do<br />

alferes era carregado, depois de morto, por animais, dentro de sacos; apenas no final torna-se<br />

um pouco mais metafísico, misturando realidade e imaginação. Logo na segunda estrofe, a<br />

voz do poema questiona a necessidade de uma escolta a vigiar o corpo inânime de Tiradentes,<br />

como que sugerindo um certo receio por parte dos mandantes do crime de que aquele corpo,<br />

mesmo morto e esquartejado, pudesse reagir. A terceira estrofe dá ao poema uma visão mais<br />

lírica, pois traz o sentimentalismo do artista frente a todo o ideal revolucionário em que o<br />

alferes estava envolvido: por lutar por uma pátria liberta e igualitária, o eu lírico o mostra<br />

enternecido com o sofrimento dos seus conterrâneos, que embora vivendo sob uma terra rica<br />

em jazidas auríferas, era um povo paupérrimo (uma boa parte da população). As três últimas<br />

estrofes levam o poema à transcendência, pois evidencia o lado imaterial, o ideal pregado pelo<br />

inconfidente como que agindo por aquelas terras, como se fosse o próprio corpo de<br />

Tiradentes, que metonimicamente, possuísse o poder da ação. Essa visão indica a memória<br />

que guardamos do ato sanguinário, que levou à morte alguém que clamava por justiça; mostra<br />

que mesmo morto o corpo do alferes, seus ideais permanecem vivos em nosso meio.<br />

Retratando de forma enternecida alguns desses personagens históricos escolhidos<br />

para compor os seus poemas, temos outra grande figura por nós aqui já citada: a de<br />

Aleijadinho. Artista mineiro do período barroco brasileiro, acometido de hanseníase, é visto<br />

nos poemas de Rivera como um ser grandioso como artista, apesar da sua baixeza de virtudes<br />

físicas. No poema “Aleijadinho: Martírio e Solidão”, o poeta apresenta toda a dor desse<br />

homem que, apesar de deixar para a história uma vasta e magnífica coleção de obras artísticas,<br />

não tinha o devido reconhecimento em sua época. Deixe-se claro que ainda hoje há<br />

controvérsias quanto à autenticidade das obras feitas pelo Aleijadinho, bem como de sua<br />

própria existência; contudo, fica válida aqui a imagem que temos desse ser e de todo o<br />

martírio por que provavelmente passou em vida. O referido poema inicia dando várias<br />

adjetivações para o Aleijadinho:<br />

Anjo bruxo<br />

anjo brusco<br />

anjo tosco<br />

anjo fosco<br />

anjo fusco. (PP, p. 143)<br />

Mostrando em cada verso dois lados do artista, o trecho selecionado segue a<br />

estrutura: “anjo” mais um adjetivo pejorativo. Seria o Aleijadinho anjo pela beleza de suas

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