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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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“Florescem teus pés em cada porto” (LP, p. 43) ou “Caiu a luz como uma chova inesperada,/<br />

alagou os minutos,/ os retratos, os véus e os sonhos mortos.” (MS, p. 64), onde<br />

encontraríamos elementos vários, de construções diversas, dados de acordo com o sentimento<br />

íntimo do poeta. Bem retrata essa atitude o segundo verso do poema “O Forno e a Estrela”, de<br />

Luz do pântano, onde o poeta revela: “entre a matéria e o símbolo me perco” (LP, p. 102),<br />

indicando aí o seu caráter sonhador, que muito o aproxima dos movimentos literários que<br />

buscaram na metafísica, no campo da idealização, na distorção da realidade vigente, o motivo<br />

de seus poemas. É esse caráter o que o poeta tenta explicar em “Rio Noturno”:<br />

Corre dentro de nós o mesmo rio primitivo,<br />

leva a rosa das origens<br />

e a lua dos nossos mortos.<br />

Em nossas águas não se banham as aves da manhã.<br />

Nas margens de pedra<br />

florescem os lírios selvagens.<br />

Mergulha em nossa face o céu sem horizontes.<br />

Caminha no lodo<br />

o peixe do enigma.<br />

Desde a fonte, fluímos como o sangue.<br />

A noite é nossa irmã, nela nos precipitamos. (LP, p. 23-4)<br />

O poema deixa entrever uma tristeza mórbida em todas as suas estrofes; não<br />

procurando mostrar o seu eu íntimo em caráter de revolta, indica ele apenas a dose de teor<br />

macabro que há em cada ser humano, ou melhor, o que está em nosso íntimo, a nossa índole.<br />

Nele não percebemos o pessimismo fatalista comumente presente em alguns de seus poemas;<br />

entretanto, sua constituição é terminantemente noctívaga, como bem comprova o seu último<br />

verso. Comparado o poema em questão aos movimentos subjetivistas ocorridos desde o<br />

século XIX (Romantismo, Simbolismo e Surrealismo), encontramos pontos de contato entre<br />

eles, pois que o poeta de Santo Antônio do Monte também buscou, em seu fazer poético,<br />

assim como aqueles, a utilização de metáforas nas construções sintagmáticas, acentuando o<br />

caráter hermético dos versos.<br />

Utilizando-se de um dos Leitmotive por ele escolhidos para as suas construções<br />

poéticas, a água, o poeta traz a simbologia de um rio como sendo o nosso íntimo, a nossa<br />

anima. Diz o poema que o referido rio leva a “rosa”, associando o fato de aquele possuir<br />

correnteza, assim como a “lua”, pelo reflexo que se dá dos objetos na superfície da água, em<br />

especial dos astros iluminados à noite. O primeiro desses elementos tem como significância a<br />

própria vida, daí todos nós termos “o mesmo rio primitivo”, isto é, a mesma força vital,<br />

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