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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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No poema acima, o poeta traz a realidade de seu estado, Minas Gerais, tentando<br />

nos passar não apenas a visão parcial da questão do gado bovino ou da produção de queijo,<br />

mas também uma crítica à política ali realizada. Nos dois primeiros versos, o poeta,<br />

metaforicamente, passa-nos a informação tão sabida contemporaneamente: a produção<br />

alimentícia realizada pelo homem é suficiente para saciar a fome populacional. Entretanto,<br />

somos cientes da má distribuição de renda não somente entre os países, mas também entre os<br />

estados da Federação, entre os municípios, entre os habitantes de uma mesma comunidade.<br />

Tal pensamento é realçado nos três últimos versos da segunda estrofe, onde temos a afirmação<br />

de que se os “pedaços” fossem eqüitativamente divididos, não haveria mais fome, pois cada<br />

homem receberia seu pedaço.<br />

É interessante o medo que paira em todo o poema de que terceiros venham e<br />

tomem o que pertence ao eu lírico e a seus correligionários, ou seja, o “queijo”. Adotando o<br />

pensamento de Vítor Manuel de que “o signo lingüístico é portador de múltiplas dimensões<br />

semânticas, tendendo para uma multivalência significativa, fugindo ao significado<br />

unívoco”, 160 podemos fazer uma associação do “queijo” a bens, valor monetário, direitos ou<br />

qualquer outro tipo de benefício possível, tendo a voz do poema assim a preocupação em não<br />

deixar que venham e levem o que a “ele” pertence por direito. É Martins de Oliveira quem,<br />

falando sobre a poesia de Rivera, diz: “o poder da palavra, para a transcendência do que<br />

realmente deverá conter, vai além da medida comum”, 161 corroborando com a nossa<br />

interpretação a partir da multivalência do signo lingüístico em seus poemas.<br />

156<br />

Ao utilizar-se do vocábulo “queijo”, Rivera faz com que nosso pensamento se<br />

volte para Minas, uma vez que esta é a região brasileira onde a produção de tal alimento é<br />

mais intensa; e fazemos essa associação não sem razão, já que esse é o estado natal do<br />

referido poeta. Ainda sobre a palavra título do poema, temos posteriormente, no décimo<br />

primeiro verso, a palavra “rato”, que não somente coaduna-se com a figura desse produto<br />

lácteo (é culturalmente sabido, ou suposto, que os ratos gostam de queijo), mas também, e<br />

principalmente, com um tom pejorativo, indicando que alguém está atrás de tomar-lhes o que<br />

a eles pertence por direito, não permitindo a divisão igualitária do bem comum (percebamos<br />

que a própria pessoa que o fez “disse que daria/ um pedaço para cada um”). Os recursos<br />

financeiros advindos do trabalho mineiro (note-se expressões tais como: “o queijo é nosso”)<br />

estaria, pois, a levantar tanto a cobiça de políticos locais, quanto a de povos dos mais diversos<br />

lugares. Com efeito, Minas Gerais sofreu durante longo tempo o resultado de uma política<br />

160 AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel. Teoria da literatura. p. 30<br />

161 OLIVEIRA, Martins de. História da literatura mineira. p. 365

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