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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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“na vida”, bem como em nosso próprio ser, pois ela também se encontra no “sonho”, isto é,<br />

em nosso íntimo, no recôndito de nossos pensamentos. Apesar desse desfecho, chegamos à<br />

conclusão de que o poema quer menos afirmar o lado negativo dos homens que advertir-nos<br />

de que se tivermos cuidado, caso policiemos mais as nossas ações, poderíamos evitar que esta<br />

“sombra”, esse instinto, vença a parcela de bondade que cada ser traz consigo.<br />

Encontramos em Luz do pântano outro poema similar na temática a “O Negro”<br />

pelo que este tem de analista do ser humano como um ser dialético, que apresenta dois lados<br />

distintos do homem: “O Ventríloquo”. Analisemos os versos:<br />

O pássaro absorto,<br />

pousado no ombro do palhaço negro,<br />

disse: “eu sou o ódio”.<br />

Todos riam no circo.<br />

Eu e o meu múltiplo chorávamos. (LP, p. 30)<br />

162<br />

Mais uma vez, temos aqui a figura do negro sendo apresentada como um elemento<br />

que denota o mal. No trecho escolhido, “negro” é o adjetivo dado ao substantivo “palhaço”,<br />

que também se apresenta como sendo aquele que carrega o mal consigo, uma vez que o<br />

pássaro que se encontra em seu ombro confessa: “eu sou o ódio”. Assumindo a personificação<br />

do mal, essa ave seria a sua representação; como o palhaço negro surge como o dono ou<br />

domador do pássaro, deve ser visto como o portador do mal.<br />

Apesar de todos os espectadores daquela cena ouvirem a confissão do animal<br />

dizendo ser ele “o ódio”, todos riem, como se não acreditassem nesse fato ou a ele não dessem<br />

atenção. Não obstante, o eu lírico, buscando em si as mais diversas faces, descobre que<br />

nenhuma delas motivo para agir como todos os demais naquele circo, e por isso chora; isso<br />

acontece porque, vendo ele que a maldade humana e a falta de consciência dos homens,<br />

alegres com esta situação, é algo deplorável, entristece-se em meio a essa população<br />

inpensada. Um verso de Rivera, ainda em Mundo submerso, poderia servir como desabafo<br />

deste eu lírico diante dos seus semelhantes: “Quanta alegria nos homens sem memória!” (MS,<br />

p. 48). De fato, Rivera tenta mostrar nos versos em análise que o homem não pára pra pensar<br />

sobre a maldade que se apresenta explícita em nosso meio.<br />

Essa característica de se ver como um ser vário, como alguém de múltiplas<br />

personalidades em si, é ainda observada em “O Duplo”, poema em que o real mistura-se com<br />

a fantasia e a questão do ambíguo modo de ser que cada ser humano possui já vem implícita<br />

desde o título. Vejamos este poema na íntegra, para que possamos compreendê-lo:

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