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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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deparamo-nos com um ser que se encontra consigo mesmo, percebendo os seus sentimentos e<br />

associando-os aos fatos da vida.<br />

De intenso teor metafísico, o poema é constituído basicamente pela angústia que<br />

apresenta a voz do poema perante a sua existência. Desde o seu primeiro verso percebemos<br />

esta característica, pois o eu lírico, bastante visível, mostra-se solitário em meio aos seus<br />

remorsos e os do mundo (perceba-se no segundo verso quando se fala sobre os remorsos<br />

“herdados”, característica do padecimento com a dor alheia), inerte, passivo aos agentes que<br />

lhe causam tristeza; e isso porque o vocábulo “corpo” que aí é utilizado assimila-se a<br />

“cadáver”, a matéria inanimada. É nesse meio que o eu lírico vai encontrar todo o tipo de<br />

entes que, para ele, são o reflexo da dor e da tristeza. Todos estes seres que vão do quinto ao<br />

oitavo verso, mesmo não fazendo parte de sua vivência, são por ele sentidos e suas dores<br />

absorvidas. Belíssima é a metáfora pelo poeta utilizada para explicar esse fato, indicando que<br />

“os rios do sangue desaguaram” taras “nos mares inocentes”, isto é, tais infortúnios caíram<br />

sobre si, que era alguém puro antes do contato havido com o que veio de fora.<br />

A terceira estrofe do poema fala-nos do estado de torpor em que o eu lírico se<br />

encontra por causa desses sofrimentos, como se ele estivesse em uma constante noite, sem a<br />

perspectiva do surgimento da aurora, ou melhor, sem encontrar alternativa alguma para o seu<br />

padecimento. Os seres que antes pareciam mortos, agora se mostram animados, acenando-lhe<br />

e dizendo-lhe palavras de estímulo para a caminhada, para que consiga prosseguir no caminho<br />

da vida. Mas o eu lírico parece o mesmo corpo sem vida do primeiro verso, deixado levar<br />

pelas ondas desse mar revolto, que parece não ter praias – metáfora utilizada pelo poeta para<br />

simbolizar a ausência de locais firmes e seguros onde pudesse descansar.<br />

Dentro desse “mar da memória” ainda encontramos vários elementos, como os<br />

“Vulcões adormecidos”, uma representação para a sua própria condição de ser humano,<br />

grandioso, imponente, possuidor do dom da vida, essa lava em chamas, dentro de si, mas que<br />

no exato momento se encontra adormecida, ou em outras palavras, encontra-se ele sem forças,<br />

sem estímulo para a vida. Temos também o “polvo das fobias”, sendo a representação desse<br />

medo exagerado em relação a algo apresentado no poema como um animal esdrúxulo, dotado<br />

de vários tentáculos, que serviriam para associar o animal aos inúmeros elementos que fariam<br />

de um medo uma fobia, vivendo então nesse mar de sua memória. Além desses elementos,<br />

outros mais, de feições surreais, dão ao poema uma característica peculiar.<br />

Os dois últimos versos funcionam como a chave para o enigma das metáforas<br />

trazidas em todo o poema: fazendo uma analogia entre o “mar” e a sua “memória”, temos que<br />

no momento em que ele não se dá conta das angústias e sofrimentos que existem à sua volta,<br />

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