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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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poema toda a sua dor e desespero diante do conflito daí surgido, mostrando que esse homem<br />

vai se tornando cada vez mais um ser distante da sua própria família.<br />

177<br />

A primeira estrofe do poema é enigmática, trazendo símbolos que exigem nossa<br />

perspicácia para que possamos desvendá-los. O primeiro desses símbolos é a “face” que se<br />

encontra “sobre as moedas”; associando-a ao “pagador” do terceiro verso, desvendamos a<br />

cena: o patrão, ou outra pessoa qualquer encarregada de efetuar o pagamento dos<br />

trabalhadores, detém a pecúnia necessária para realizar tal ato. Também observamos, ainda no<br />

primeiro verso, a locução adjetiva “de lua negra” como um enigma para nós leitores. Como o<br />

vocábulo “negro”, bem como suas variações de número e gênero, como já abordamos em<br />

subtópico anterior, significa na poesia de Rivera o que é mal, entendemos que esta “face de<br />

lua negra” sugere a insensibilidade desse pagador em relação ao mísero salário pagado aos<br />

seus funcionários. Ainda temos, na primeira estrofe, as “moedas”, referência ao valor<br />

monetário a ser pago, seguidas do adjetivo “vermelhas”. Essa cor poderia estar associada ao<br />

sangue, que também possui esta coloração, indicando que o pagamento efetuado provém do<br />

grande esforço despendido pelo eu lírico, ou seja, do seu suor, do seu sangue.<br />

O eu lírico do poema perde a sua identidade, desumaniza-se, frente à massificação<br />

da classe operária. Para o patrão, os trabalhadores são “apenas um número”, pois para ele o<br />

que interessa é a produtividade. A voz do poema acha aquilo tudo degradante, e compara a<br />

atitude de seguir em fila à espera do salário à forma humilhante de mendigar uma refeição em<br />

fim-de-semana promovida por instituição caritativa. É assim que na sétima estrofe o eu lírico<br />

apresenta uma revolta íntima diante daquela situação que o constrangia, rebaixa-se à condição<br />

de escravo, chamando os patrões de “meus donos”; ou poderia ser que ele, em sua grande<br />

angústia, achasse-se em condição inferior à humana, considerando-se um objeto.<br />

A terceira estrofe contém muitas simbologias, mas tudo se referindo à realidade da<br />

questão trabalhista levantada no título do poema. A primeira delas, o “pássaro voando”, assim<br />

como a última, o “peixe no azul”, pode querer indicar que o emprego do eu lírico deixava-o<br />

enclausurado; daí ele olhar para o mundo “Lá fora” e imaginar tais elementos, que remetem à<br />

liberdade pelo fato dos animais citados voar e nadar, respectivamente. Ainda na mesma<br />

estrofe, temos uma “rosa crescendo”, que confrontada à situação em que a voz do poema se<br />

encontrava, poderia sugerir a falta de beleza em seu local de trabalho. Também o “cão/ no<br />

alpendre” seria uma forma idealizada do eu lírico imaginar situações agradáveis, justamente<br />

por ele se encontrar em situação oposta. Essa última visão seria, então, o seu desejo de<br />

descansar tranqüilamente, indicando ai que o seu emprego era exaustivo.

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