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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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atitude poética, alcançar e conhecer o mundo por ele apreendido. Ainda em relação ao poema<br />

selecionado, Rivera nos dá uma visão mais profunda da condição humana, pois não há ali o<br />

ataque frontal contra as atitudes do ser humano, mas sim uma ironia sutil, camuflada, que<br />

suscita o raciocínio para que possa ser entendida, dando condição ao leitor para que este<br />

obtenha suas próprias conclusões, desvendando o mundo à sua maneira.<br />

Mais uma vez, auxiliados pelos postulados da filosofia existencial-ontológica,<br />

poderíamos dizer que é o próprio Heidegger quem diz, quando fala sobre o ser-no-mundo<br />

como o ser-com e o ser-próprio: “o ‘não-eu’ não diz, de forma alguma, um ente em sua<br />

essência desprovido de “eu”, mas indica um determinado modo de ser do próprio ‘eu’ como,<br />

por exemplo, a perda de si próprio”, 81 indicando com isso uma forma de interpretar o mundo.<br />

Toda a produção artística de Rivera, incluindo os poemas que foram lançados em jornais<br />

diversos e que não constam nas três obras publicadas, contém essa preocupação com o<br />

mundo, com o ser humano. Almeja ele dar a conhecer o homem em toda a sua<br />

existencialidade, desde a origem, buscando-a em tempos milenários, nas formas unicelulares,<br />

quando profere: “Éramos o molusco, a lesma salgada, a forma indecisa” (LP, p. 72); passando<br />

pelas “faces, os frutos murchando” (MS, p. 38) dos doentes, ou mesmo de qualquer ser que<br />

vive, pois que apresentamos, como característica maior de nossa existência, a da tendência<br />

para a morte; chegando no sono que “passará na tua fronte” (MS, p. 55), ou melhor, a própria<br />

morte do ser humano.<br />

A preocupação constante de Rivera com o ser humano é o que o fez escrever o<br />

poema “O Fantasma”, onde encontramos a presença de algo indizível, peculiar ao eu lírico do<br />

poema, mas que pertence, na verdade, a todos nós, pois é como se fosse “apenas a idéia,/ a<br />

mais branca idéia”, isto é, a nossa própria consciência. Observemos, como exemplo, a terceira<br />

estrofe do poema citado:<br />

Nasceu no meu dia,<br />

dormiu no meu berço.<br />

Não estava ao meu lado,<br />

mas viveu no meu sonho.<br />

Não é sombra, é a febre,<br />

a idéia mais pura,<br />

presença do eterno;<br />

talvez o intangível,<br />

talvez o mistério. (MS, p. 14)<br />

81 HEI<strong>DE</strong>GGER, Martin. Ser e tempo. p. 167<br />

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