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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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exteriores; é aquilo que devemos extrair inicialmente da percepção para reencontrar a pureza<br />

da imagem”. 105 Não podendo analisar a nós mesmos de forma precisa, utiliza o poeta um<br />

recurso mental, que é o de sair do seu corpo físico e, através de uma perspectiva extra-<br />

corporal, auto-analisar-se. Para isso, faz uso do elemento “olho”, que é a forma por ele<br />

encontrada para representar a sua sensação diante do seu eu. E tudo isso porque, como o que<br />

Rivera queria era interpretar o sentimento humano de maneira intimista, busca o poeta uma<br />

forma de encontrar a essência do homem, com a grandeza da imagem por ele criada; e como<br />

sabemos que o símbolo poético tem como característica a indeterminação, ou melhor, a<br />

instabilidade, compreende-se que, ganhando o “olho” nos poemas de Rivera em proporção<br />

conotativa, assumindo uma plurivalência significativa, facilita a análise íntima do ser pela<br />

capacidade de chegar onde a simples definição não chega.<br />

Heidegger chama “de ‘fuga’ de si mesmo o fato da presença de-cair no impessoal<br />

e no ‘mundo’ das ocupações”, 106 isto é, o ato de retirar-se de algo por este possuir o caráter de<br />

ameaça. Ao se utilizar de um “Olho consciência”, fora de si, Rivera dá pressuposto para a<br />

fundamentação da angústia em seu eu lírico, e conseqüentemente, do temor. A visão desse<br />

olho, constantemente a observá-lo, torna-se maior que “a paciência e a força”, sendo “a fuga<br />

inútil”, uma vez que, mesmo fora de si, o olho seria a visão dele próprio, uma forma de<br />

penitenciar-se, de policiar-se; é uma “luz que cega”, tamanha a sua onisciência.<br />

Vertendo o seu poema para o lado intimista, procura Rivera encontrar o erro dos<br />

seres humanos e, com a figura do olho, o remorso como uma “luz de cabeceira” de tais seres,<br />

como se a consciência de quem erra o punisse pelo ato cometido. A segunda estrofe do poema<br />

vem mostrando justamente isso: aquele que comete o crime pode até agir impunemente,<br />

escapar “livre como um pássaro”; mas a sua consciência o denunciaria, pois “o olho acorda”,<br />

“e guarda na retina/ a sombra que é a denúncia”. O olho funciona, então, como uma “chaga<br />

dolorosa”, já que o coloca diante do mundo e o sentencia. Para o eu lírico, não se pode<br />

enganar esse ente, pois ele nos domina, subjuga-nos, e nem mesmo somos capazes de saber<br />

onde ele de fato se encontra, uma vez que quando o sentimos “à direita”, à “esquerda está”. O<br />

poeta dá a esse olho mais que a onisciência, mas também a onipresença, pois é como se ele<br />

estivesse em todos os lugares, a ele nada escapando.<br />

No poema, o elemento “olho” recebe ainda a alcunha de “poço de sarcasmo”, por<br />

ter noção do que sente o eu lírico e agir de modo a perturbar-lhe os sentimentos. Duas<br />

emoções opostas são confrontadas pelo poeta para que percebamos a atitude do “olho<br />

105 BERGSON, Henri. Op. cit. p. 60<br />

106 STEIN, Ernildo. In: HEI<strong>DE</strong>GGER, Martin. Op. cit., p. 249<br />

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