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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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todos os seres vivos, como a fome, a injustiça salarial, a angústia da morte, o temor de uma<br />

nova guerra, etc.<br />

186<br />

Apesar de pertencente à Geração de 45, e com ela por vezes seguir o comedimento<br />

verbal, o poeta também traz em sua poesia a plasticidade vocabular, expondo em poemas,<br />

especialmente os de Mundo submerso e Luz do pântano, a sua sentimentalidade, de teor<br />

metafísico, atingindo uma supra-realidade que, não chegando a divagar no ambiente onírico,<br />

trabalha, mesmo assim, a sugestão e as múltiplas possibilidades interpretativas do signo<br />

lingüístico, buscando para tanto unir concisão vocabular e intensidade emotiva.<br />

Entendendo o que diz Hugo Friedrich sobre a lírica moderna, que esta “impõe à<br />

linguagem a tarefa paradoxal de expressar e, ao mesmo tempo, encobrir um significado”, 181 e<br />

sabendo do apreço que tinha Bueno de Rivera pela vertente surrealista ao gosto francês (muito<br />

embora ele não abusasse do subjetivismo), 182 concluímos que na poesia de Rivera temos essa<br />

procura por retratar os aspectos cotidianos da vida humana sem cair no superficialismo, não<br />

permitindo que dos seus versos surgisse uma linguagem grotesca, mas sim uma poesia lírica,<br />

transcendente.<br />

Conforme a filosofia heideggeriana no que diz respeito à linguagem, temos que “A<br />

libertação da linguagem dos grilhões da Gramática e a abertura de um espaço essencial mais<br />

original está reservado como tarefa para o pensar e poetizar”, 183 indicando-se aí a função<br />

metafórica e plurissignificativa da poesia. Coaduna-se com este pensamento a visão que tinha<br />

Rivera sobre o poder da linguagem poética, afirmando, em entrevista concedida a Isidro<br />

Sallum para um suplemento literário de Minas Gerais, no ano de 1978, que “O poeta é o ser<br />

mais livre do universo, porque tem a imaginação mais fértil que a do homem comum. Viaja<br />

nela por mundos inexistentes e paisagens inconcebíveis”, 184 mostrando o seu apreço pela<br />

poesia subjetiva. Contudo, Rivera soube muito bem, ao lado da vertente hermética por ele<br />

trabalhada, expressar sentimentalmente a vida cotidiana (especialmente em Pasto de pedra),<br />

assim como o drama universal do homem, em simplicidade clara, como o fizera na última<br />

parte de Luz do pântano, onde o poeta, a nosso ver, mais se humaniza.<br />

Por apresentar esse veio humanístico, trazendo sempre uma preocupação com o ser<br />

humano, buscamos associar à sua poesia os postulados da filosofia existencial-ontológica de<br />

Heidegger, para quem o ser humano, ou melhor, a sua presença “compreende<br />

ontologicamente a si mesma (e, portanto, também o seu ser-no-mundo) a partir dos entes e de<br />

181 FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. p. 178<br />

182 CLEMENTE, José. In: Suplemento Literário. ANO XIX. Nº 943. p. 05<br />

183 HEI<strong>DE</strong>GGER, Martin. Carta sobre o humanismo. p. 02<br />

184 SALLUM, Isidro. In: Suplemento Literário. Nº 597, p. 8-9

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