11.04.2013 Views

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

118<br />

É assim que em “Mundo Submerso”, poema de abertura da primeira obra poética<br />

de Rivera, temos uma das figuras por nós analisadas no terceiro capítulo do nosso estudo, a<br />

água, de maneira enigmática e imprecisa. Vejamos:<br />

Os pensamentos amplos<br />

movem-se vermelhos<br />

como peixes livres<br />

entre as algas frias.<br />

O olho da memória<br />

acende-se no abismo<br />

e rola como a lua<br />

entre as nuvens salgadas.<br />

A retina imersa<br />

retrata as angústias,<br />

é a câmara atenta<br />

aos gestos mais vagos.<br />

Soluços sem eco<br />

de inúteis motivos,<br />

suicídios lentos,<br />

pactos de morte.<br />

Mulheres aquáticas,<br />

estrelas de carne,<br />

sugando os desejos,<br />

tentando os incautos.<br />

Mãos retorcidas<br />

na ânsia do náufrago.<br />

Navios mortos<br />

no cais profundo.<br />

O músico do bar<br />

dança com o polvo.<br />

A pauta vogando<br />

sem interpretação.<br />

O véu e a coroa<br />

enfeitam os recifes.<br />

A bailarina dorme<br />

nos corais serenos.<br />

Amáveis lembranças<br />

de longos roteiros,<br />

as cartas, os lenços<br />

no adeus eterno.<br />

As chagas acesas<br />

cobertas de sal,<br />

as idéias rolando<br />

no fatal mergulho.<br />

Boca sem vozes,<br />

olhos afogados,<br />

coração boiando

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!