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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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Em suplemento literário de Minas Gerais, que tem como tema o nosso poeta em<br />

questão, temos também a comprovação dessa profissão de Rivera, afirmando nele que o<br />

mesmo foi “um dos mais famosos speakers de Minas, tendo atuado longamente na histórica<br />

Rádio Mineira”. 142 No poema, temos a referência ao “locutor”; entretanto, é de uma forma<br />

mais diferente, mística, envolvendo aspectos como a aflição ou o drama de não estar falando<br />

de maneira audível (necessidade do locutor). Por causa dessa subjetividade havida no trecho<br />

supra-citado, a voz do poema que ali é apresentada parece não revelar inteiramente o Rivera<br />

que conhecemos. Não obstante, devemos ter em mente que expor meramente os seus<br />

sentimentos não deve ser o verdadeiro intuito do poeta; Leyla Perrone-Moisés já adverte que<br />

“o escritor é o desencadeador, mas não o dono absoluto” 143 do texto, isto é, mesmo em uma<br />

literatura de cunho intimista, o leitor é também peça fundamental, é ele quem vai continuar o<br />

trabalho iniciado pelo escritor. Assim sendo, mesmo podendo comprovar a existência de fatos<br />

da vida do poeta em seus livros, não significa que tais poemas só possam ser analisados sob a<br />

égide do aspecto autobiográfico.<br />

129<br />

Como percebemos através do estudo da poesia de Bueno de Rivera, claro é, pois,<br />

que nos seus poemas não temos a retratação fiel do fato ocorrido, como uma descrição (até<br />

mesmo por se tratar de poesia); mas nem em se tratando da narrativa de cunho autobiográfico,<br />

essa fotografia da vida real é necessária para que a autobiografia se conflagre, o que faz com<br />

que por vezes oscilemos entre a realidade acontecida e a depreendida pelo escritor. E<br />

especialmente por lidarmos com a poesia, um gênero que prima pela subjetividade e a<br />

imprecisão, entendemos o porquê de não encontrarmos abertamente a pessoa do autor em seus<br />

poemas. Em todo o caso, uma leitura apurada dos poemas de Rivera nos revelaria que o eu<br />

lírico ali lançado tem muitas vezes a ver com si próprio; todas as angústias por que a voz dos<br />

poemas passa são, na verdade, sentidas pelo poeta de Santo Antônio do Monte, que expressa<br />

poeticamente tudo o que o seu ser de fato absorve em seu cotidiano. Esse eu íntimo, criado<br />

para dar voz ao que nele eclodia, é uma maneira de proferir o que ele pensava, de dizer o que<br />

ia no íntimo de seu ser, através de uma bela sentimentalidade.<br />

Para entendermos melhor a relação entre o eu – maneira encontrada pelos poetas<br />

de atuar moralmente no mundo – e o não-eu – aquilo que se refere à realidade material –,<br />

observemos a explanação feita por Anatol Rosenfeld em Texto/contexto:<br />

142 NEVES, Libério. In: Suplemento Literário. Ano XIX – Nº 943, p. 01<br />

143 PERRONE-MOISÉS, Leyla. Flores da escrivaninha: ensaios. p. 108

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