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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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adentra nesse meio por vontade própria, já que não vê motivo para não fazê-lo; entretanto, no<br />

momento contrário, quando depreende toda a realidade e as tristezas pertinentes ao homem,<br />

finda afogando-se, ou melhor, sucumbindo em suas próprias idéias.<br />

A análise da poesia de Rivera, confrontada com a filosofia de Heidegger pelo que<br />

esta tem de preocupada com o ser, com a angústia do homem diante de sua finitude, leva-nos<br />

a compreender tal poesia de um modo mais profundo. É com a referida análise que somos<br />

capazes de adentrar verticalmente no íntimo da palavra, desvendando-lhe os maiores<br />

segredos. A questão temporal dos corpos é evidente em Rivera; também para o filósofo da<br />

Floresta Negra, a finitude humana é fator condicionante para o desencadeamento da sua<br />

filosofia. Para este, “a morte é a possibilidade da impossibilidade de qualquer outra<br />

possibilidade”. 86 Temos no poema de Rivera anteriormente analisado, então, certa dose de<br />

filosofia heideggeriana, pois percebemos o estado de inércia em que o eu lírico se encontrava:<br />

temos aí um alguém que se considera simplesmente como um “corpo”, parecendo, a nosso<br />

ver, que lhe faltava, nesse momento, a anima, ou seja, vida; alguém que mais se assemelhava<br />

a um “algo”, um “ente”, já que os referidos vocábulos também se aplicam a objetos; alguém<br />

que não reagia, não prosseguia, mesmo após o apelo dos seres a ele próximos – daí o<br />

questionamento pelo mesmo feito: “Como?”, uma vez que ele não via escapatória para a sua<br />

resignação.<br />

Inúmeras são as vezes que encontramos a figura da morte nos poemas de Rivera.<br />

Em “O Poço”, por exemplo, profere: “O vento da hora morta. Os avós sorrindo,/ tão meigos<br />

sorrindo. E a morte tão viva!” (MS, p. 13), trazendo aí a morte como que personificada, capaz<br />

de levar aqueles que um dia fizeram parte da sua vida para um outro plano. Também em<br />

“Adeus ao Mundo Morto” encontramos os versos: “Não há mais a tísica na sala dos retratos,/<br />

afogando o piano em lágrimas aflitas” (MS, p. 19), que mostram ainda a presença constante da<br />

morte. Aqui, mesmo o eu lírico negando a presença da figura que remeteria à morte, que é a<br />

da tísica, pelo fato de esta não mais se encontrar naquele meio, pelo simples fato de se estar<br />

falando nela, além da ênfase dada ao seu sofrimento, a sua figura torna-se bastante presente<br />

no poema; além disso, já por afirmar que a tísica não existe mais, percebemos a presença do<br />

fator morte, atestando a brevidade da vida e mostrando o caráter irredutível do findar-se.<br />

Ainda podemos encontrar outras passagens mais, onde a questão sobre a morte é tratada de<br />

forma sutil, como em “O Silêncio Trágico”, quando profere: “jovens dormindo, não acordam<br />

mais”, falando aqui de mortes súbitas.<br />

86 Ibidem, p. 50<br />

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