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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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primeiramente pelo seu crivo de artista e por isso mesmo modificada a seu gosto. É como o<br />

próprio Drummond explica no prefácio de sua obra: “Tenho certa dificuldade de recuar, de<br />

sair de mim mesmo e me observar como pessoa”, 29 afirmando com isso que o que escreve é<br />

mais algo saído do seu íntimo, espontaneamente, do que “poesia pensada, cerebral”. 30<br />

Em relação ao aspecto intimista, podemos afirmar que a poesia de Rivera tem<br />

muita consonância também com o que escreve outro poeta mineiro, este integrante do grupo<br />

da revista Verde, Rosário Fusco, que, ousando inovar segundo a influência do eixo Rio – São<br />

Paulo, procurou fazer uma poesia vazada de sentimentalismo e subjetividade, como atesta o<br />

seu “Poemas Codaque”:<br />

Juiz de Fora<br />

Manchester das minas gerais.<br />

O crepúsculo escorrega violentamente<br />

e cai<br />

na paisagem de cartão-postal<br />

e nos olhos espantados do Cristo-do-Morro 31<br />

Neste poema temos o sentimento do poeta interpretando a realidade por ele<br />

vivenciada. Retratando a cidade de Juiz de Fora, associa-a a Manchester, grande centro<br />

econômico e industrial inglês, o que nos faz sentir a cidade mineira como um local próspero<br />

do referido estado brasileiro. Apesar de interessante, esta associação feita entre uma cidade<br />

brasileira e outra estrangeira não é um fato ímpar entre nós; temos outros exemplos em nosso<br />

meio, como o da cidade de Recife, capital pernambucana, tida por tempos e atestada nos<br />

poemas de Manuel Bandeira como a “Veneza americana” por sua beleza e esplendor.<br />

A poesia de Rosário Fusco assemelha-se ao que Rivera realizou em sua poética<br />

porque este, também se situando no espaço comum e na vida cotidiana como aquele, procurou<br />

externar seus sentimentos nesse meio poético. Contudo, Bueno de Rivera chega ainda a ser<br />

mais ousado, realizando construções que beiram ao surrealismo, enquanto que o autor de<br />

Fruta de conde buscou mais um realismo fantástico. Observemos os últimos versos de<br />

“Noturno Mineiro”, de Rivera, para que possamos entender tal característica:<br />

A tarde traz a fumaça<br />

do mar. Um homem sozinho.<br />

O mineiro pensa na vida<br />

sentado no cais. (MS, p. 66)<br />

29<br />

ANDRA<strong>DE</strong>, Carlos Drummond de. Boitempo. p. 01<br />

30<br />

Ibidem, p. 01<br />

31<br />

FUSCO, Rosário. In: BRASIL, Assis. Op. cit. p. 75<br />

27

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