O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
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O que é mais perigoso?<br />
A língua ou o lingote?<br />
O sangue do cadinho<br />
é do ferro ou é do homem?<br />
A escória é a borra<br />
do homem ou da usina?<br />
O que estão fundindo<br />
é a peça ou a perna?<br />
O laminador lamina<br />
o aço ou o braço?<br />
O carvão alimenta<br />
a forja ou o bucho?<br />
Quem é mais forte?<br />
A haste ou o guindaste?<br />
O alto-forno é alto<br />
ou o homem é que é baixo?<br />
A sucata é de quem?<br />
Daqui ou dalém? (PP, p. 51-2)<br />
Assumindo uma atitude esfíngica, o poema apresenta um jogo que se faz pelo<br />
duplo sentido que pode tomar o vocábulo que está sendo usado por vez nas perguntas; e isso<br />
já é evidente desde o seu título, quando temos a “usina capciosa”, que quer dizer que é uma<br />
usina ardilosa, que nos induz ao engano. O primeiro dos trocadilhos, apresentando a palavra<br />
“têmpera”, que tanto pode significar a resistência de um material quanto a medida do caráter<br />
humano, pergunta quem mais a tem, se “o homem ou o aço”, deixando-nos perplexos diante<br />
da surpresa advinda do questionamento proposto. Usando do método comparativo, teríamos<br />
que associar “homem” e “aço”, ligando-os por uma mesma característica; assim sendo,<br />
“têmpera” não poderia designar “personalidade”, mas tão somente a resistência de um<br />
material. Isso nos induziria a questionar as habilidades humanas, o poder conquistado por este<br />
ser através do seu intelecto. O homem, mesmo não tendo a força manual para trabalhar com o<br />
ferro em seu estado puro, feito rocha, é capaz de fundi-lo, deixá-lo mais resistente, na forma<br />
de aço (adicionando àquele carbono), e moldá-lo ao seu gosto. Não seria, pois, o homem mais<br />
forte e resistente do que aquilo que ele é capaz de moldar e subjugar? “Usina Capciosa”,<br />
seguindo os parâmetros da filosofia, não sistematiza, apenas problematiza, deixando para nós<br />
a incumbência de encontrar uma resposta para os questionamentos aí levantados. Tal<br />
característica, pois, mostra a abertura da poesia de Rivera, que pede a interpretação do seu<br />
leitor para uma maior desenvoltura e riqueza da obra. O poema em questão deixa o leitor<br />
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