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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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diz realizar um trabalho com profissionalismo, realizar uma arte, enquanto que na verdade<br />

está sendo pornográfico; e a outra, a atriz que serve a este propósito.<br />

Os sete últimos versos do trecho escolhido, seguindo também um padrão,<br />

permanecem todos eles com sete sílabas poéticas cada (aceitando a síncope “séc’lo” no último<br />

verso). Em relação ao conteúdo, é aqui que ele deixa mais claro o seu posicionamento sobre a<br />

atitude do homem diante do sexo, indicando ser este questionamento “complexo”, mas<br />

também dizendo que o homem reflete o sexo em seu ser. Quando o poeta mostra que o<br />

homem “sem nexo fala do sexo”, mostra mais claramente esse reflexo do sexo no ser humano,<br />

indicando a sua atitude promíscua de pensar no sexo e nele falar, mesmo em situações ou<br />

momentos inoportunos. Os dois últimos versos são mais drásticos, falando no homem<br />

adorador do sexo, e este como um elemento que comanda todo o século.<br />

O ser humano, em seu desejo irrefreado pelo que domina o século na visão do<br />

poeta, ou seja, o sexo, pode ser qualificado como um Homo eroticus, o que faz desse seu<br />

querer uma razão para a sua própria existência. Esse lado erótico do homem, atestado por<br />

Rivera, pode ser muito bem explicado pelas palavras do teólogo Nabor Nunes Filho, para<br />

quem:<br />

Erótico não é apenas o desejo sexual, mas o desejo como um todo, gerado<br />

interiormente, ou seja, nessa totalidade íntima do nosso ser. Esse desejo se dirige a<br />

objetos exteriores para se expressar; dentre esses objetos, o sexo é um dos mais<br />

intensamente presentes. 82<br />

Depreendendo o desejo humano, Bueno de Rivera conflagra-se como um perfeito<br />

observador das atitudes humanas, entendendo mais que a latência sexual havida no coração<br />

dos homens, mas compreendendo o próprio querer desse ser de forma integral. Em relação ao<br />

desejo sexual abertamente atacado no poema, vemos que ele faz de Rivera um vate,<br />

predizendo o que estaria por vir no mundo todo em relação ao sexo, pois que nas últimas<br />

décadas do século a que o poeta de Santo Antônio do Monte pertenceu, houve o aumento do<br />

capital financeiro e da movimentação de divisas originadas com a chamada “indústria do<br />

sexo”.<br />

A análise do ser humano feita por Rivera coloca aquele não em um determinado<br />

patamar, longe de tudo o que é mundano; ao contrário, lança-o no meio em que de fato vive,<br />

confrontando suas ações e sentimentos com o mundo que o cerca. Esse ato de ser-lançado é o<br />

82 NUNES FILHO, Nabor. Eroticamente humano. p. 26<br />

63

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