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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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astante à vontade para interpretá-lo à sua maneira. Esse pensamento coaduna-se com os<br />

postulados de Umberto Eco, para quem uma obra “não poderá ser realmente compreendida se<br />

o intérprete não a reinventar num ato de congenialidade com o autor”. 78<br />

No terceiro e quarto versos, Rivera não quer realmente saber o que é melhor, mas<br />

simplesmente fazer a sugestão de que o ser humano necessita passar por um processo<br />

criacional, ou ao menos tomar consciência dos seus atos, sendo assim capaz de modificar-se.<br />

Seria o mesmo pensamento desenvolvido pelo poeta já desde Mundo submerso, em poemas<br />

como “Ó Claridade” (p. 25), em que um futuro melhor é pressentido; “Adeus ao Mundo<br />

Morto” (p. 19), onde temos uma nova “Era Humana”; entre outros poemas. O ato de “fundir o<br />

ferro”, realizado em usinas para moldá-lo de acordo com a necessidade do produto a ser<br />

fabricado com esse material, é no poema aplicado para que possamos confrontá-lo com o<br />

homem e para que pensemos na possibilidade de este ser, então refundido, ou melhor,<br />

moldado ao gosto daquele que realiza tal ato, possa ser condicionado a um novo jeito de ser.<br />

O poema não quer dizer que o homem necessite de outra forma física, mas sim de uma nova<br />

moral, de um novo comportamento.<br />

A seqüência de versos que aparecem logo após estes analisados também é muito<br />

interessante, trazendo-nos questionamentos vários sobre a condição e atitude humanas. Na<br />

terceira estrofe, como exemplo, pelo perigo de se trabalhar com objetos metálicos, capazes de<br />

dilacerar membros humanos pelo manuseio industrial, como no caso do “lingote”, o autor<br />

busca uma parte do corpo humano, a “língua”, pela semelhança fonética entre os vocábulos, e<br />

confrontando ambos indaga-se sobre qual seria o “mais perigoso”. Como nos demais casos, a<br />

ambigüidade se faz presente, já que a língua humana não oferece perigo – ao menos do<br />

mesmo modo que o lingote. A língua seria perigosa pelo que ela pode produzir: a fala; e com<br />

esta, a mentira, a farsa, a trapaça e tudo o mais de danoso que pode advir desse ato de<br />

comunicação. Já as duas estrofes subseqüentes trazem outra conotação: é a visão do homem<br />

como pertencente ao próprio processo industrial. No primeiro caso, pelo fato da exaustão que<br />

causa ao homem o trabalho árduo em uma usina, temos o material que está no cadinho, sendo<br />

derretido, tomado então como o “sangue do cadinho”, para que possa haver a comparação<br />

entre o “ferro” e o “homem”, com a pergunta de se tal sangue é de um ou do outro. E no<br />

segundo caso, o vocábulo “escória”, que pode significar tanto os resíduos oriundos da fusão<br />

de metais quanto algo desprezível, ou até mesmo funcionar como uma referência à parcela da<br />

população desprovida de recursos financeiros, é usado não para comparar o homem à usina,<br />

78 ECO, Umberto. Obra aberta. p. 41<br />

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