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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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sob a liga, a meia e o corpo vário.<br />

A moça e o emprego, o homem e a fábrica,<br />

a mãe e o hospital.<br />

Pago o embrulho, busco a rua e as pedras.<br />

Dói o calo, dói o mundo... (LP, p. 89)<br />

Como percebemos, o poema mostra-se bem mais complexo do que poderia<br />

parecer, repleto de simbologias e informações diversas. O eu lírico, sendo a representação do<br />

próprio poeta (observe-se o título a indicar tal associação), encontra-se em uma sapataria;<br />

olhando os artigos da loja, inesperadamente começa a ver várias figuras disformes, logo em<br />

seguida realizando, de forma lógica, porém desconexa, uma percepção dos seres que se<br />

encontravam naquele recinto, fazendo uma associação destes e o seu local característico: “a<br />

moça e o emprego”, ou seja, a atendente e o seu cargo; “o homem e a fábrica”, que poderia<br />

ser qualquer comprador e, do outro lado, o trabalho que lhe dá a subsistência e a oportunidade<br />

de comprar o artigo; “a mãe e o hospital”, possivelmente o duelo mental travado pelo<br />

comprador em virtude de inúmeros outros gastos mais importantes de sua responsabilidade,<br />

como a ajuda financeira à mãe que se encontra hospitalizada (mesmo que a terceira<br />

personagem, a mãe, esteja ali apenas por um processo mental). Antes disso, ainda, temos<br />

várias outras construções que beiram ao surreal pelo fato esquisito de aparecerem imagens<br />

aquáticas, como “mergulho” e “corais”, em meio a uma situação de compra de um sapato;<br />

mas isto pode ser explicado como um modo particular que apresenta o poeta de enxergar a<br />

realidade, por meio de um eu poético submerso pelas águas – visão esta que será por nós<br />

estudada em capítulo específico, ao longo do nosso trabalho.<br />

Percebemos, então, que a poesia de Bueno de Rivera tende a ser por vezes bastante<br />

intimista, procurando adentrar no intrínseco do ser humano e captar, nas cenas do cotidiano, a<br />

realidade assim como ela é entendida por ele. Define bem essa característica de sua poesia<br />

uma citação retirada de suplemento literário de Minas Gerais do ano de 1984, em que temos:<br />

Os seus poemas refletem um humanismo profundo e uma compreensão da realidade<br />

do cotidiano, impressionantes. A sua poesia traz quase sempre aquele singular<br />

hermetismo do senhor Carlos Drummond e um subjetivismo sentimental<br />

exuberante, buscados, talvez, na experiência dos acontecimentos, sabendo mesmo<br />

tirar de fatos da vida comum, expressões estéticas de um transcendentalismo<br />

significativamente metafísico. É uma poesia intensa e extraordinariamente<br />

interiorizada. 21<br />

21 SABINO JÚNIOR, Oscar. In: Suplemento Literário. ANO XIX – Nº 943. p. 04<br />

22

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