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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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analisando a si mesmo, chegue, por fim, à análise da própria condição humana, também se<br />

utilizando da literatura participante. É esta a conclusão a que chega Elbion de Lima, que<br />

discutindo a poesia de Rivera, profere: “duas dimensões abrange sua inspiração: uma<br />

individual, filha de suas vivências; outra, coletiva, social, oriunda da angústia que lhe causa a<br />

contemplação do homem imerso quase que tragicamente no cosmos”. 137<br />

Buscamos, em nossa análise poética, entender a questão existencial-ontológica a<br />

partir da visão particular do poeta estudado, para que a partir de uma expressão individual<br />

cheguemos ao universal, ou melhor, àquilo que todos nós podemos sentir. E isso porque:<br />

127<br />

Sendo a obra de um escritor concebida como uma totalidade orgânica da qual todos<br />

os aspectos exprimem “o espírito do autor”, princípio espiritual que lhes confere<br />

unidade e necessidade, a tarefa da crítica é buscar o “étimo espiritual”, o foco<br />

oculto que permite explicar as múltiplas facetas do texto. 138<br />

De acordo com um dos maiores teóricos do aspecto autobiográfico em literatura, o<br />

francês Philippe Lejeune, dentre as condições para que haja autobiografia no aspecto literário,<br />

uma é a de que “o assunto deve ser principalmente a vida individual, a gênese da<br />

personalidade”. 139 Precisamos de cautela, então, se quisermos analisar uma obra poética como<br />

autobiográfica: primeiro porque esse tipo de fazer literário aparece especialmente, como já<br />

afirmamos, nas narrativas, onde temos exímios representantes aqui no Brasil, como José Lins<br />

do Rêgo, Murilo Mendes, Pedro Nava, entre outros mais; o outro motivo básico é porque a<br />

poesia é geralmente expressa através de uma voz que em sua grande maioria expõe os ideais<br />

do escritor, a sua visão íntima dos fatos, repleta de sensações particulares e sentimentos, o que<br />

não implicaria conseqüentemente, quando do estudo poético, em uma necessidade da análise<br />

biográfica.<br />

Apesar de muitos poetas falarem sobre assuntos diversos em seus poemas,<br />

contemplando o mundo em geral, os críticos vêem na poesia o pensamento e a pessoa dos<br />

seus autores, não buscando comumente em exegeses poéticas comprovar essa relação tácita<br />

que de fato há entre poesia e poeta. Contudo, ainda retomando o que Lejeune argumentou<br />

sobre o caráter autobiográfico, poderíamos afirmar que, não chegando a ter uma autobiografia<br />

nos poemas de Bueno de Rivera, teríamos ao menos “poemas autobiográficos”. Referência<br />

similar realiza Antonio Candido em A educação pela noite, indicando existirem<br />

137 RIBEIRO, Wagner. Antologia luso-brasileira: curso secundário. p. 260<br />

138 MAINGUENEAU, Dominique. O contexto da obra literária. p. 04<br />

139 LEJ<strong>EU</strong>NE, Phillippe. Le pacte autobiographique. p. 15 (No original: le sujet doit être principalement la vie<br />

individuelle, la genèse de la personnalité).

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