O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
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Ó estrangeira! ó estrangeira!<br />
vem, estrela do dilúvio!<br />
No poço das gerais, um afogado te espera! (LP, p. 50)<br />
Como desmembramento de “Itinerário de Ângela”, ouros poemas mais aparecem<br />
com a mesma temática, trazendo a mesma cena marítima em que a pequena garota, imigrante,<br />
desfaz-se de todo o seu passado e recebe, como missão, encontrar o poeta de Santo Antônio<br />
do Monte, que se autodenomina “afogado”. Exemplo é “Ângela no Mar”, que reproduzimos<br />
logo a seguir:<br />
Na infância do mundo, uma rosa caminha<br />
sobre as espumas. Apenas tua face<br />
floresce na solidão atlântica.<br />
Longe, o teu berço se dilui.<br />
Voam tróicas vermelhas e cavalos de prata.<br />
Morre a tua aldeia, nascem lírios<br />
do sangue de teus parentes sobre a neve.<br />
E a menina de azul das ruas de Verbális?<br />
E a rosa dos Urais nas praças de Verbális?<br />
E a casta alegria de Verbális?<br />
Navegas sobre um passaporte neutro<br />
rumo às praias que dormem na memória dos mapas.<br />
Que te espera , flor de chamas? Que será<br />
de tua adolescência entre os peixes selvagens? (LP, p. 47-8)<br />
138<br />
Buscando toda a magnificência da simbologia poética, Rivera fala,<br />
apaixonadamente, de sua esposa no poema em questão. Logo de início, mesmo antes de citá-<br />
la, já declara o seu amor por ela, apresentando o mundo ainda na infância; isso possivelmente<br />
quer dizer que, para ele, o mundo só teve início (ou sentido) quando ela passou a existir.<br />
Identificando-a com os símbolos florais, temos então a figura de Ângela a florescer em meio<br />
ao oceano, dada a sua beleza e amor por Rivera a ela vertido.<br />
A segunda estrofe traz construções indicando que a viagem enfrentada pela mulher<br />
seria definitiva, através de passagens como: “o teu berço se dilui” e “Morre a tua aldeia”,<br />
retratando o aspecto psicológico havido na mente de Ângela, esquecendo-se do seu passado,<br />
que no poema é dado pelos verbos “diluir” e “morrer”, além de outras como: “sangue de teus<br />
parentes sobre a neve”, confirmando a nossa informação sobre o motivo da vinda da família<br />
de Ângela para a América. A última estrofe retorna ao momento em que Ângela partia rumo<br />
ao novo continente, por isso as “praias que dormem na memória dos mapas”, pois era um<br />
local pela família ainda desconhecido. Fazendo uma alusão à população indígena habitante de<br />
nossas terras no momento de seu descobrimento pelos portugueses, também temos no poema