O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
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188<br />
Imagino a evolução da sensibilidade de Bueno de Rivera através de uma curva<br />
partindo do comovente espetáculo de si próprio para o doloroso espetáculo do<br />
mundo. Imagino-a como uma luta tenaz pela integração desse “eu” rebelde e<br />
diferente no sofrimento da “canalha” igualitária. 187<br />
Muito embora o renomado crítico encontre na poesia de Rivera uma evolução,<br />
acreditamos nela haver mais uma constante procura de mover-se entre esses dois polos<br />
equidistantes, realizando uma poesia que ora se apresenta lírica, ora participante, mas nunca<br />
deixando de ser uma para ser outra. Entendemos isto porque já desde Mundo submerso que o<br />
poeta apresenta as duas vertentes de modo claro, com poemas que analisam tanto o eu íntimo<br />
quanto o eu social.<br />
Acreditamos que a análise por nós realizada no presente estudo de alguns símbolos<br />
recorrentes na poesia de Rivera, verdadeiros Leitmotive, serviram para abrir o nosso horizonte<br />
em relação à perspectiva interpretativa de seus poemas, especialmente em uma análise<br />
autotextual, uma vez que, melhor conhecendo o intuito do poeta quando da utilização desses<br />
elementos, fomos capaz de aplicar uma exegese em seus poemas, desfazendo o hermetismo<br />
criado pelo surgimento de tais símbolos. Foi assim que, desvendando, já a partir de Mundo<br />
submerso, a latência da água em sua poesia, com todo o ideal sugestivo e consequências daí<br />
advindas, percebemos a sua utilização como Leitmotiv em Luz do pântano e Pasto de pedra,<br />
como nos versos:<br />
Caíram sobre o vale dos centauros<br />
as águas vivas do pranto.<br />
Doce mar do ódio<br />
onde se afogam os senhores do limbo. (LP, p. 79)<br />
onde a água é vista metaforicamente como um meio de punição moral, capaz de extinguir<br />
qualquer injustiça, seja o contraventor um simples homem da sociedade ou poderosos<br />
mandantes. O boi também aparece em alguns poemas de Mundo submerso, assumindo sua<br />
verdadeira grandiosidade significativa em Pasto de pedra, transcendendo ao mero animal<br />
citado e comparando-se ao homem pelo sofrimento que este apresenta diante da vida, como<br />
quando mostra ser a vaca também “mãe dos homens” (PP, p. 09), ou no momento em que fala<br />
no “rebanho humano” (PP, p. 26), indicando a proximidade desses dois seres que sofrem e,<br />
apesar de tudo, não deixam de ser “Homens e bois resignados” (MS, p. 62).<br />
187 Ibidem. p. 106