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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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Meireles. Encontramos vários pontos de contato entre a sua poesia e a de Rivera,<br />

especialmente no tocante à busca da transcendência de si mesmo e à utilização de uma poesia<br />

hermética. No ambiente onírico de sua poesia, onde o melancólico se superpõe, Cecília<br />

Meireles deixa entrever o caráter neo-simbolista do grupo a que pertenceu, como em “Já Não<br />

Tenho Lágrimas”:<br />

Já não tenho lágrimas:<br />

estão caídas<br />

longe, em vagas margens,<br />

qual mornas ovelhas<br />

recém nascidas. 57<br />

Rivera também traz essa visão resignada dos fatos, como se o mundo fosse feito de<br />

tristezas que não pudessem ser apagadas. Como exemplo, citamos um dos poemas inéditos,<br />

“Canto do Operário Argelino”, selecionado por Affonso Romano de Sant’Anna em sua<br />

coletânea dos melhores poemas do poeta em estudo:<br />

Eu sei que minhas mãos calosas<br />

não sabem acariciar a face das crianças,<br />

nem conhecem a mímica dos atores.<br />

Minhas mãos são explosivas<br />

como bombas de plástico.<br />

Meus dedos duros romperam as cortinas do tempo<br />

e mostraram às crianças<br />

o clarão da nova vida<br />

que amanhecerá em nós. (MPBR, p. 126)<br />

Por várias vezes encontramos uma similaridade entre o fazer poético de Rivera e<br />

os postulados do grupo Festa. Pregando a libertação da poesia, diziam os seus integrantes que<br />

recebiam com fervor tal atitude poética “porque dentro dessa libertação melhor poderiam<br />

pulsar os nossos ritmos próprios e mais alto ressoar a nossa música interior”. 58 É assim que,<br />

por seu gosto pela poesia lírica, Rivera assimila-se àqueles poetas que buscaram essa mesma<br />

vertente na modernidade. No caso de Cecília Meireles, busca ela, ao lado da consciência da<br />

transitoriedade das coisas, refletir uma atmosfera de solidão e padecimento; é aqui que ela<br />

vem com versos que parecem ter sido retirados do âmago de sua alma:<br />

Eu não tinha este rosto de hoje,<br />

Assim calmo, assim triste, assim magro,<br />

Nem estes olhos tão vazios,<br />

57 MEIRELES, Cecília. Os melhores poemas de Cecilia Meireles. p. 152<br />

58 SILVEIRA, Tasso da. Definição do modernismo brasileiro. p. 124<br />

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