O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
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subjetiva). Sua atenção se desloca, então, para os modos possíveis dessa relação,<br />
valorizando a linguagem, que a realiza. 170<br />
No poema de Rivera, o “louco” seria como a representação da lírica, do ideal<br />
subjetivo, enquanto que os “sensatos” seriam os optantes da objetividade. No trecho acima, o<br />
poeta de Santo Antônio do Monte expõe sua visão existencial-ontológica, falando sobre a<br />
divisão do eu poético e da objetividade em poesia, e pede para que venha o lado místico da<br />
vida, que seria dado através das previsões do futuro. A sua indagação acerca do paradeiro<br />
desses “loucos” mostra a possibilidade, ou quem sabe sugere a necessidade, da convivência<br />
harmônica entre o mundo moderno e as crenças antigas, similar ao pensamento de Salete<br />
Cara, sobre as relações possíveis do eu íntimo e da realidade.<br />
Apesar de descrever os fatos do cotidiano e inserir o seu eu lírico na sociedade<br />
moderna, falando muitas vezes do homem naquele meio, Rivera não apresenta essa<br />
repugnância vivenciada por Engels e descrita por Benjamin; ao contrário, expõe-na com<br />
naturalidade em seus poemas, pois sabia, como homem do século XX, que a vida em<br />
sociedade era inevitável; encaminhávamo-nos cada vez mais para ela. Trazem bem essa<br />
característica o poema “A Rua”, em que o real se mistura ao imaginário em um amálgama de<br />
cenas dadas por percepções e lembranças. Vejamos os seus primeiros versos:<br />
A minha sensibilidade perturba o trânsito<br />
mas o meu coração percorre as praças,<br />
ávido de notícias! O menino<br />
que saiu do internato para a festa.<br />
O chapéu enorme sobre as idéias,<br />
o colarinho duro como fôrca, os afetos<br />
crescendo sobre os sapatos.<br />
Eu e a sombra do prédio somos os únicos<br />
lugares puros no conflito. (MS, p. 26)<br />
Usando temas atuais e realísticos, como o “trânsito”, o poeta não se enclausura em<br />
torres de marfim; ao contrário, insere-se no meio em que vive, e a partir de suas vivências,<br />
desenvolve o fator lírico. Por isso é que temos construções metafísicas, como esta de se ter<br />
sua “sensibilidade” a perturbar o trânsito. Ao lado dela, temos as lembranças do eu lírico, do<br />
tempo em que ele era “menino”, transformando-o em um ser puro, por se tornar novamente<br />
criança. Essa é a forma de se detectar o ser-com no mundo, pois “Como existencial, o ‘ser-<br />
junto’ ao mundo nunca indica um simplesmente dar-se em conjunto de coisas que<br />
170 CARA, Salete de Almeida. A poesia lírica. p. 6-7