O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
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Em seu banquete há sempre o milho tenro,<br />
ovos de peixe,<br />
sangue de ovelha,<br />
carne de pombos.<br />
Na sala dos candelabros amarelos<br />
quatro cavalos amplos e selvagens,<br />
contemplam um cogumelo de hidrogênio.<br />
Mas nas suas ferraduras de ouro e aço<br />
brilha uma estrela.<br />
De seu estrume, sob a mesa,<br />
nasce uma flor. (MPBR, p. 131-2)<br />
181<br />
Poema denso de mistério, “Os Quatro Cavalos Sentados” apresenta a metáfora<br />
muito bem trabalhada. Está contido no Melhores poemas de Bueno de Rivera, pois fora<br />
publicado em “O Estado de Minas”, no ano de 1956, não constando em nenhum dos três<br />
volumes de poesia publicados por Rivera. Assim como os outros poemas participantes, o<br />
supra-citado poema provém da angústia que causa ao poeta a contemplação da raça humana<br />
em todo o seu martírio e auto-flagelação. Antes de tudo, observemos a interpretação dos<br />
símbolos que aparecem no poema, feita por Wagner Ribeiro, para que possamos efetuar uma<br />
exegese poética:<br />
Quatro Cavalos – Representam os Quatro Grandes, os donos da Paz, logo após a<br />
2ª Guerra Mundial.<br />
Unicórnio – Animal mitológico de um chifre só.<br />
Ovos de peixe – Caviar, comida feita de ovos de esturjão.<br />
Cogumelo de Hidrogênio – Bomba atômica.<br />
A flor que nasce do estrume – A paz. 178<br />
Referindo-se à Conferência de Paz acontecida em Paris no ano de 1919, pelos<br />
vitoriosos da Primeira Guerra Mundial, mas politicamente dominada pelos chamados “Quatro<br />
Grandes”, que eram: Estados Unidos, Reino Unido, França e Itália, o poema fala sobre a<br />
reunião por eles realizada na Sala dos Espelhos de Versalhes, como atesta o primeiro verso da<br />
quinta estrofe (“Diante dos grandes espelhos”). Foi nessa famosa sala que se deu o Tratado de<br />
Versalhes, regulando a paz com a Alemanha, quer dizer, desmilitarizando-a e obrigando-a a<br />
pagar aviltada quantia aos países vencedores – fato que talvez tenha sido o principal a levar a<br />
Europa à Segunda Guerra.<br />
Estes “cavalos”, ou seja, os presidentes dos países mencionados, aparecem no<br />
poema pastando “o nosso ódio”, quer dizer, enquanto a população se digladia nos campos de<br />
178 RIBEIRO, Wagner. Antologia luso-brasileira. p. 260