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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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133<br />

Se o ser-no-mundo é uma constituição fundamental da pre-sença em que ela se<br />

move não apenas em geral mas, sobretudo, no modo da cotidianidade, então a presença<br />

já deve ter sido sempre experimentada onticamente. Incompreensível seria<br />

uma obnubilação total, principalmente porque a pre-sença dispõe de uma<br />

compreensão ontológica de si mesma, por mais indeterminada que seja. 147<br />

Os preceitos filosóficos de Martin Heidegger são válidos nesse momento porque<br />

explicam a visão do ser humano inserido no mundo, tomando consciência de si próprio como<br />

Dasein. Mesmo que a indeterminação reine entre os elementos expostos no poema de Rivera,<br />

eles darão, como afirma o filósofo germânico, uma compreensão acerca do ser que naquele<br />

meio é retratado.<br />

Do décimo nono ao vigésimo terceiro versos do poema em análise, temos a visão<br />

filosófica de Heidegger sobre a angústia da morte inserida no poema de Rivera, pois no<br />

momento em que a voz do poema detecta a morte de parentes seus, mostra o pesar sofrido<br />

pela perda dos referidos entes, como a exclamação feita logo após falar ternamente sobre os<br />

avós e a lembrança que se tinha deles: “E a morte tão viva!”. Também pelo fato de a<br />

exclamação estar contida no mesmo verso que ainda falava sobre os avós, nota-se o espanto,<br />

que não é contido e aparece espontaneamente. Quando se faz referência à mãe, ainda<br />

percebemos a visão heideggeriana no poema, pois ao afirmar que ela “não sabe notícias do<br />

mundo”, e que “Não pergunta, não responde”, entendemo-la morta, uma vez que, de acordo<br />

com o filósofo, “a morte é a possibilidade da impossibilidade de qualquer outra<br />

possibilidade”. 148<br />

As lembranças do passado ainda são percebidas nos dois últimos versos, quando<br />

temos as reminiscências vindo à tona, com a figura paterna e a dos irmãos. O que de início<br />

poderia ter parecido o receio e o sentimento de culpa por expressões do tipo: “Ânsia”,<br />

“suspiros”, “susto”, “suor”, “abafando”, “mão pesada”, “boca torta”, “grito” e “goles<br />

trêmulos”, agora mais parece tão somente a tristeza pela perda de entes queridos.<br />

De cunho intimista, “O Poço” traz, enfim, uma visão analista da própria vida<br />

humana, pois retrata assuntos pertinentes a qualquer ser humano. Na seção dos poemas<br />

inéditos de Melhores poemas de Bueno de Rivera selecionados por Sant’Anna, temos um<br />

poema, “O Poeta Cheira a Cidade” (MPBR, p. 121), em que o eu lírico vem dizendo: “farejo a<br />

cidade como um cão”. É importante percebermos o intuito do poeta em apresentar no poema,<br />

além dos sentimentos mais íntimos e pessoais, a sua própria personalidade, pois, já a partir do<br />

título, temos o sujeito “poeta”, mesmo o restante do poema não fazendo referência a esse ser<br />

147 HEI<strong>DE</strong>GGER, Martin. Ser e tempo. p. 98<br />

148 VATTIMO, Gianni. Introdução a Heidegger. p. 50

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