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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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“único”, “maldito”, “renegado”, “estranho”, “louco”, além de outros vocábulos mais que<br />

mostram ainda o lado difícil da vida, como: “desespero”, “delírio”, “mistério”, “abismo”,<br />

“caminhos vagos”, “infortúnio”, “tormentos”, “raiva”.<br />

O eu lírico refere-se a um alguém que desesperadamente busca a tranqüilidade, o<br />

lado bom da vida; contudo, esta procura é inútil, uma vez que apenas o martírio é o que este<br />

ser encontra. Nos últimos versos do poema, Rivera usa uma metáfora para fazer com que este<br />

ser com quem o eu lírico fala surja brotando “do solo”; entretanto, longe de se assemelhar a<br />

uma árvore frutífera ou a uma planta ornamental, aparece como erva, como “pasto dos<br />

tormentos”. A imagem que o poema nos passa parece querer nos remeter a um ambiente<br />

pesaroso, muito similar à idéia que fazemos do inferno, tanto pelo vocábulo “fogo”,<br />

designando tudo o que há de trágico e devastador, quanto pelo último verso, que traz um<br />

ambiente totalmente ígneo, dadas as palavras “ardendo” e “vermelho”.<br />

Rivera é sempre pessimista quanto ao seu momento histórico, vendo os homens<br />

como “os pirogênios”, “os possessos” (PP, p. 140-4), inserindo-se nesse meio que acredita<br />

estar se degradando. É assim que afirma que “Mergulha em nossa face o céu sem horizontes”<br />

(LP, p. 24), quer dizer, estamos nos precipitando em um ambiente que a cada dia se mostra<br />

mais hostil ao próprio ser humano.<br />

Apesar dessa visão pessimista, o poeta ainda acredita em um vindouro mundo<br />

melhor, o que alega em vários poemas seus. Exemplo disso é quando, ainda em Mundo<br />

submerso, profere: “A estrela de fogo chama os homens para a Era Humana” (MS, p. 19),<br />

mostrando que havia uma esperança para o homem viver plenamente, em harmonia com os<br />

seus semelhantes; ou então frases contidas como: “Amanhece no meu espírito”, com todas as<br />

conotações possíveis de caráter positivo. Mesmo sonhando com um mundo melhor,<br />

depositando sua confiança na raça humana, Rivera sempre volta à realidade e, assim, percebe,<br />

mais uma vez, a maldade que há em nosso meio. Observemos a seguinte estrofe, a última do<br />

primeiro poema de Mundo submerso:<br />

As ondas são doces,<br />

o céu é tranqüilo,<br />

mas um corvo sonha<br />

na praia em silêncio. (MS, p. 11)<br />

Usando do Leitmotiv água para retratar conotativamente a realidade, o poeta<br />

descreve um ambiente de calmaria, onde nenhum sinal evidencia perigo eminente; contudo, o<br />

receio de uma tragédia, ou mesmo algo que tire a tranqüilidade daquele ambiente, é sentido. A<br />

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