O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA
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A voz do poema indica que esse “fantasma” faz parte de sua própria constituição,<br />
já que nasceu no seu “dia” e dormiu no seu “berço”, ou melhor, sempre esteve junto a ele,<br />
desde a sua gênese. Sendo pressentido sempre dentro de si, esse ente não tomava forma, “mas<br />
viveu” no seu sonho, indicando assim que era como um querer, um sentimento ou mesmo<br />
uma força que apesar de possuindo vida própria, mantinha uma relação estreita com o seu ser,<br />
influenciando-o e se inserindo em seus sonhos. O quinto verso do trecho escolhido reforça o<br />
caráter imaterial desse “fantasma”, uma vez que ele “Não é sombra”, sendo tão somente “a<br />
febre,/ a idéia mais pura,/ presença do eterno”. Isso mostraria que tal ente, mesmo se<br />
conhecendo certas características sobre essa sua essência, ainda é por ele desconhecido, já que<br />
não se apresenta concretamente. Não podemos dizer que o “fantasma” no poema indicado seja<br />
simplesmente um sentimento do eu lírico e de mais ninguém, pois ele também é “presença do<br />
eterno”, algo que não está restrito à efemeridade de uma vida humana. Poderíamos ainda ser<br />
levados a pensar em uma parte de nós imortal, vivendo por todos os tempos; porém, mesmo<br />
não chegando a ser niilista, o poema de Rivera não verte sobre esse aspecto metafísico da<br />
existência humana: passa ele sobre o binômio “corpo” e “alma” de forma sucinta, sem<br />
levantar muito questionamento a esse respeito. Percebemos, então, que a “presença do eterno”<br />
a que ele se refere certamente é uma alusão a essa característica que o poeta percebe ser do<br />
próprio homem, existindo desde sempre e a existir enquanto a raça humana subsistir; seria<br />
uma característica dos seres humanos, uma espécie de forma de depreender o mundo, de<br />
entender a si mesmo e ao que nos rodeia, como um sexto sentido, pois ele é “talvez o<br />
intangível,/ talvez o mistério”.<br />
Apesar dessas especulações metafísicas, a poesia de Rivera também procura,<br />
embora de forma utópica, chegar ao entendimento sobre a sociedade atual, mostrando<br />
interesse e receio pelo nosso futuro. De fato, é justificável essa atitude do poeta mineiro, pois<br />
a época em que ele realiza os seus poemas é marcada por conflitos universais. Mesmo sem<br />
datar os poemas que compõem os seus livros de poesia, podemos ter uma noção do espaço<br />
temporal em que eles foram escritos. Tomemos, por exemplo, o seu primeiro livro, Mundo<br />
submerso, que foi publicado em 1944: caso os poemas ali contidos tivessem sido escritos<br />
ainda naquela mesma década, quer dizer, apenas a alguns anos antes de 1944, teríamos que a<br />
sua poesia foi iniciada no momento em que o mundo enfrentava a sua Segunda Guerra<br />
Mundial, que ocorreu entre os anos de 1939 e 1945. Rivera então se mostra propenso à<br />
temática que envolve o homem, como se estivesse receoso dos acontecimentos futuros, como<br />
se necessitasse propagar em nosso meio a paz. É isso o que faz no poema “Manhã”, quando<br />
afirma:<br />
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