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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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etorno ao esteticismo e à retórica, [...] marcando, com clareza e decisão, o primeiro passo em<br />

direção ao formalismo”, 15 Rivera em muitos casos realiza uma poesia vazada de<br />

sentimentalismo e emotividade, apresentando em sua poética a prevalência pelo aspecto vago<br />

e impreciso como forma de expressão daquilo que sente, muito embora tudo isso surja dentro<br />

de um certo comedimento formalizante característico da referida fase à qual pertenceu. Poeta<br />

mineiro, Rivera parece absorver muito do que na sua região era produzido, dessa aura mística<br />

e histórica, povoadora de um dos melhores tipos de literatura produzidas no Brasil.<br />

Isso porque a região das Minas Gerais sempre apresentou, ao longo de sua história,<br />

uma literatura especial, particular em sua temática, de teor intimista, reveladora do ânimo<br />

daquele povo. Habitantes de uma vasta região mediterrânea, os mineiros parecem ter<br />

adquirido uma formação moral peculiar em virtude dessa constituição geográfica em que<br />

estavam inseridos, vivendo na solidão das terras infindas e montanhosas. Fácil é de se<br />

observar que “o mineiro é paciente como a eternidade das montanhas, de seus rios e seus<br />

vales”, 16 como se houvesse uma ligação mística entre o povo e o seu habitat. Dessa ligação<br />

saiu uma literatura transcendental, que assumiu uma característica de teor intimista dada a<br />

emotividade ali contida e a preocupação com o valor ontológico apresentada pelos seus<br />

autores, que muitas vezes procuravam denunciar um mundo injusto e desumano, ou apenas<br />

atestar a felicidade de uma vida calma e religiosa.<br />

Minas sempre foi um reduto de artistas de marca maior, que entraram para a<br />

história da literatura brasileira como inovadores, diferenciados e grandiosos, muitos sendo os<br />

nomes que surgiram nesse cenário, destacando-se a tendência espiritualista que, acentuada no<br />

Modernismo, veio a dominar a literatura local. E Rivera não fez diferente, trabalhando de um<br />

lado esse intimismo subjetivista, adentrando em seu eu íntimo, e de outro a vertente do eu<br />

social, interessado que estava em trazer à tona os mais diversos aspectos da existência<br />

humana, com uma poesia participante.<br />

Utilizando-se de uma linguagem simbólica, de forte apelo visual, Bueno de Rivera<br />

expõe os seus sentimentos, sejam estes oriundos de reminiscências ou da sua compaixão para<br />

com o mundo, de uma maneira acentuadamente humana. Mesmo quando trabalha a vertente<br />

lírica, consegue apontar para as injustiças sociais e para o sofrimento do povo, utilizando-se<br />

de uma bela linguagem metafísica que leva sua poesia a uma supra-realidade.<br />

É de se perceber que Rivera acaba por assimilar muito do que foi trabalhado por<br />

vários poetas mineiros, os quais estavam engajados nessa luta humanística, em especial nas<br />

15 MARTINS, Wilson. A crítica literária no Brasil. p. 599<br />

16 OLIVEIRA, Martins de. História da literatura mineira. p. 26<br />

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