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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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140<br />

O poema inteiro transcorre em um tom sombrio, em que paira a escuridão dadas<br />

palavras tais como: “noite”, “temporal” e “sono”, assim como o tormento e o medo pelas<br />

palavras “lobo” e “enigma”. De início, uma pétala é apresentada sem vontade ou força<br />

própria, como um simples objeto, e não como uma referência a ser vivo, sendo levada<br />

possivelmente pela correnteza do rio. O olho observador que no terceiro verso aparece, ao<br />

invés de exaurir o caráter solitário apresentado pela pétala nos primeiros versos do poema,<br />

acentua-lhe, uma vez que não irá fazer companhia a este elemento indefeso, mas tão somente<br />

segui-lo de modo enigmático e sorrateiro.<br />

O eu lírico chega a fazer indagações sobre a personalidade dessa entidade<br />

misteriosa, como exemplifica o quinto verso, mas ele não espera de fato respostas para seus<br />

questionamentos; eles só nos levam a crer que nem mesmo a voz do poema, que aqui poderia<br />

ser onisciente, sabe discernir se o elemento que vigia a pétala é mal (“lobo”) ou bom<br />

(“mágico”). Eis aí, então, a mudança de “rio da noite” para “rio do enigma”, indicando a<br />

incerteza dos rumos daquela frágil existência representada pela pétala. Associamos nesta parte<br />

o termo “lobo” ao que há de malévolo por causa do instinto feroz e carnívoro do referido<br />

animal, tão aludido nos Volkmäerchen da cultura alemã, bem como nas fábulas em geral; e o<br />

termo “mágico” ao que há de bom porque o mesmo vocábulo aparece em outros poemas mais<br />

com essa significação, como no poema homônimo contido em Luz do pântano, indicando<br />

serem tais homens “inventores/ da paz perpétua” (LP, p. 85), ou em “Os Destinos Urbanos”,<br />

em que o mágico é tido como aquele ser capaz de nos mostrar “a claridade”, de nos ordenar “a<br />

fuga” de todo meio que nos oprime.<br />

O décimo segundo e o décimo terceiro versos mostram o receio por parte do eu<br />

lírico em relação à segurança da pétala e ao futuro desta, apresentando-a desamparada e<br />

indefesa. O penúltimo parágrafo, trazendo agora a figura da “rosa” também sob tais águas,<br />

permite-nos agora associá-la à pétala que voga sobre o rio; entretanto, à rosa é dada a<br />

faculdade da lucidez, em uma prosopopéia que indica ser ela a representação de um ser<br />

humano, e no caso, da esposa de Bueno de Rivera, Ângela. É ela então que embala o filho<br />

com o seu canto.<br />

Há, entretanto, uma discrepância de sentidos se parássemos a investigação poética<br />

por aqui; e isso porque em um momento temos a mãe a embalar a criança, após encontradas<br />

as metáforas, e em um outro a incerteza dos rumos desse ser. Preciso é, então, entendermos a<br />

vida do poeta para podermos decifrar tal enigma surgido à nossa frente. Antes de Isaac e<br />

Clara, os dois filhos de Bueno de Rivera até a presente data vivos, um outro filho, gerado<br />

primeiro que estes, falecera ao nascer. Escrevendo o poema para esse filho, pois, o poeta

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