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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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Como uma espécie de destino trágico, Rivera traz em seus poemas a visão de todo<br />

o mundo em padecimento, imerso no meio aquoso, sufocado por essa água revolta, como se<br />

ninguém pudesse escapar da fatalidade por ele simbolizada:<br />

Teu pai luta nas ondas, tua mãe<br />

vai entre as balsas, a irmã ingênua<br />

se apaga nas espumas, os brinquedos<br />

se afundam no infinito, e a namorada<br />

voga nua e branca como a pétala (MS, p. 32)<br />

Não há força humana capaz de vencer a monstruosidade dessa água assassina, que<br />

em sua correnteza arrasta a todos, deixando-os à deriva ou até mortos. A água toma uma<br />

conotação maior do que a imaginada: é agora uma temática profunda, a verdadeira retratação<br />

de tudo aquilo que no mundo causa sofrimento ao homem. A visão artística do poeta mostra o<br />

arquétipo familiar sendo submergido por esse meio: o pai, símbolo da virilidade, da força<br />

muscular e da proteção da família, apresenta-se lutando para conseguir a sobrevivência; a<br />

mãe, pureza e superioridade moral, consegue socorro “entre as balsas”; a irmã, pequena e<br />

frágil, sucumbe “nas espumas” desse mar revolto; e a namorada, símbolo da sensualidade e<br />

delicadeza feminina, acaba morta, boiando nas águas, aparecendo “nua”, porque mesmo num<br />

contexto como esse, desperta, no poeta, a atração pelo sexo oposto; mesmo assim é também<br />

“branca como a pétala”, metaforicamente representada por um elemento ao mesmo tempo<br />

belo e frágil, como o é a pétala de uma flor. Todas as pessoas a ele mais próximas são<br />

retratadas, então, como tendo sido vítimas das águas.<br />

As imagens submersas criadas por Rivera são todas frutos de sua mente, como<br />

muito bem afirma em seus versos: “Ali começa a viagem ao antilúcido/ onde os peixes<br />

devoram os anjos e as imagens”. Mas apesar de ser somente criação sua, deduzido por esse<br />

“antilúcido”, encontra-se o eu lírico frente a uma situação desesperadora, pois os peixes, ao<br />

devorarem “os anjos e as imagens”, não permitem nem uma ajuda divina nem a simples<br />

esperança do crente no apego às imagens sacras. A água é, enfim, um meio que aniquila,<br />

mostrada por vezes como um elemento que leva toda a podridão existente nos seres humanos:<br />

Mergulham em solidão<br />

incestos imaginários, matricídios,<br />

olhos adúlteros, flores violadas,<br />

filhos mortos em forcas ilusórias. (LP, p. 26)<br />

A água seria, também, esse meio que pune as maldades humanas, sejam estas<br />

efetivamente realizadas (“matricídios”, “flores violadas”) ou somente pensadas (“incestos<br />

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