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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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Ainda em relação ao poema selecionado, temos, no oitavo verso, fruto de um bem<br />

elaborado trabalho artístico, o assunto da guerra sendo generalizado, tomando todo o mundo<br />

(que no poema é retratado como a “cidade marchando”). Marcha toda a gente, então, “entre o<br />

crepúsculo e a aurora”. Tais momentos, marcados pela penumbra (o primeiro) e pelo raiar do<br />

sol e a subseqüente claridade (o segundo), são muito usados em poesia para representar o<br />

antagonismo entre o bem e o mal, entre o declínio e o vigor, a tristeza, o sofrimento e a<br />

alegria. Rivera usa os referidos vocábulos para indicar tanto os sortilégios quanto os destroços<br />

da guerra, indicando, numa maior exegese, que em uma guerra pode-se ganhar ou perder; ou<br />

mesmo que até do lado vencedor há perdas (econômicas, políticas, humanas, entre outras)<br />

incomensuráveis.<br />

Nossa visão é corroborada pela última estrofe, onde temos os “Mortos do<br />

crepúsculo”, indicando que apesar de o Brasil ter estado do lado vencedor da guerra, nossas<br />

perdas humanas nos colocam em um lado perdedor, do lado “do crepúsculo”. A referida<br />

estrofe ainda dirige-se aos mortos da Segunda Guerra Mundial, chamando-lhes de “Mortos da<br />

aurora” e informando-lhes que em seus lugares hoje estão os seus filhos. O poeta, mais uma<br />

vez, toca no ponto por nós interpretado: apesar de considerar os soldados da Segunda Guerra<br />

Mundial como “da aurora”, ou melhor, do lado vencedor, mostra-os mortos, indicando assim<br />

que mesmo vencendo, morreram em batalha. É dessa maneira que encerra o poema,<br />

indagando acerca do nosso futuro, pois esteja do lado do crepúsculo ou do da aurora, vidas<br />

humanas são sacrificadas em uma guerra.<br />

Outro poema participante, onde o tema central agora é o do assalariado, com forte<br />

crítica à burguesia, é o “A Mão Recebe o Salário”, que transcrevemos na íntegra:<br />

A face de lua negra<br />

sobre as moedas vermelhas,<br />

o pagador nos espera.<br />

Somos apenas um número<br />

e a dúvida. Vamos em fila<br />

como os mendigos num sábado.<br />

Lá fora, o pássaro voando,<br />

a rosa crescendo, um cão<br />

no alpendre, um peixe no azul.<br />

Nosso nome declamado.<br />

Os algarismos se dobram<br />

como acrobatas na cena.<br />

A mão recebe o salário,<br />

Confere as cédulas: não chega!<br />

Não chega! O mundo escurece...

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