11.04.2013 Views

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

113<br />

existia latente na era anterior. Como o que deixa de ser patente continua latente na<br />

era posterior. Embora a linha dominante seja sempre a da superação. 118<br />

Tal pensamento poderia ser aqui associado à tão conhecida sentença salomônica de<br />

que não há “nada de novo sob o sol”, 119 ou seja, que as coisas acontecem de forma repetida no<br />

mundo, valendo então também para as tendências literárias, que trazem, praticamente<br />

alternadamente, vertentes de cunho ora materialista ora espiritualista em sua essência.<br />

É assim que observamos claramente, até na poesia contemporânea, produções de<br />

estilo nitidamente romântico, sem que tais poetas pertençam ao movimento havido no século<br />

XIX ou que pareçam anacrônicos. Certamente que temos de guardar as devidas proporções<br />

quando comparamos um autor posterior com um grupo surgido décadas ou mesmo séculos<br />

antes; o que tem de ser feito é a comparação psicológica e idealística entre eles havida. É<br />

dessa forma que falamos em um caráter neo-romântico ou neo-simbolista nos poemas de<br />

Rivera, justamente por entendermos conter, alguns deles, as características daqueles estilos de<br />

época.<br />

Também o crítico Sérgio Milliet se expressa dessa forma, em seu Diário crítico, já<br />

em fins da década de 40, apontando para o caráter romântico de diversos poetas modernistas,<br />

desde a primeira fase, em 1922, até a Geração de 45:<br />

O movimento modernista foi, caracteristicamente, uma manifestação<br />

romântica. Descabeladamente romântica, anarquicamente romântica. “Paulicéia<br />

Desvairada” reflete, melhor do que os outros livros de 22 o clima de então. Mas<br />

também o que naquele momento escrevem Manuel Bandeira, Ribeiro Couto,<br />

Osvaldo de Andrade, Cassiano Ricardo e Menotti é romântico. Um paralelo do<br />

romantismo com o modernismo estabeleceria a perfeita identidade dos dois<br />

movimentos, inclusive nos seus aspectos exteriores de agressividade e boemia. E<br />

esse romantismo perdura até Murilo Mendes, Carlos Drummond e Augusto<br />

Frederico Schmidt. As novas gerações é que viriam a marcar a reação construtiva e<br />

clássica com Cabral de Melo Neto, José Paulo Moreira da Fonseca, e outros,<br />

enquanto o romantismo ainda produz frutos admiráveis através de Vinícius de<br />

Morais, Bueno de Rivera, Lêdo Ivo, Domingos Carvalho da Silva e boa parte dos<br />

que hoje se filiam ao grupo de Orfeu ou a outros clãs literários. 120<br />

Seguindo os postulados de J. Guinsburg, que em um estudo sobre o período<br />

romântico profere: “A categoria psicológica do Romantismo é o sentimento como objeto da<br />

ação interior do sujeito, que excede a condição de simples estado afetivo: a intimidade, a<br />

espiritualidade e a aspiração do infinito”. 121 Afirmamos que a poética de Rivera muitas vezes<br />

118<br />

LIMA, Alceu Amoroso. Pelo humanismo ameaçado. p. 116<br />

119<br />

Bíblia Sagrada, p. 968<br />

120<br />

MILLIET, Sérgio. Diário crítico. p. 190<br />

121<br />

J. GUINSBURG. O romantismo. p. 51-2

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!