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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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característica de se utilizar do intimismo o aproxima, então, de um grupo de escritores que se<br />

firmaram no Rio de Janeiro, com uma corrente chamada “espiritualista”, que tinha como<br />

características a “manutenção da herança simbolista, defesa da tradição, do mistério,<br />

conciliação do passado e futuro, universalidade de temas”. 51 Dentre os integrantes do referido<br />

grupo, citamos primeiramente o nome de um que, em seu “opúsculo por vezes ostensivamente<br />

romântico”, 52 ganhou notoriedade no cenário nacional por sua vertente nostálgica e altruísta:<br />

Augusto Frederico Schmidt. Citamo-lo pelo amor que Rivera vertia à poesia deste neo-<br />

romântico em pleno século XX; fator que aproximou a poética de ambos, pois que eles<br />

trouxeram uma sensibilidade marcante às letras brasileiras, procurando retratar o sofrimento<br />

humano, de maneira melancólica.<br />

A similaridade é feita por nós porque são muitos os poemas de Rivera em que há,<br />

assim como houve em Schmidt, uma aura de angústia, gerando por vezes versos macabros,<br />

como nas seguintes passagens do poema “Os Anjos do Limbo”:<br />

Felizes aqueles que nascem mortos,<br />

esses que nunca tiveram nome<br />

.<br />

Lágrima fria nos olhos vidrados,<br />

na face impassível das mães mortas.<br />

(...)<br />

Felizes aqueles que nascem mortos,<br />

estão na treva, rindo dos vivos. (MS, p. 34)<br />

Essa é uma visão sufocante. Totalmente lúgubre, o poema acima exposto traz a<br />

mórbida figura de crianças nascidas mortas, indicando ser este um estado de felicidade para<br />

elas. Há o estado de choque daqueles que esperavam pelo feto, representados pela “face<br />

impassível das mães mortas”, chorando por seus filhos; mas mesmo assim o eu lírico reforça a<br />

felicidade daqueles que não chegaram ao mundo com vida, não como se quisesse nos mostrar<br />

que estes seres estariam em um paraíso ou em outro plano melhor, mas simplesmente para<br />

evidenciar que a nossa vida terrena é motivo de escárnio. Não se diz o motivo desse<br />

menosprezo, mas pela atitude artística assumida pelo poeta, temos a impressão de que ele<br />

procurava com isso atestar o caráter angustiante da vida. A cena narrada, mesmo acontecendo<br />

independentemente da vontade de alguém (uma vez que há crianças que já nascem mortas),<br />

parece ter a cumplicidade do eu lírico, pois esse parece aprovar, ou melhor, regozijar-se com<br />

51 PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de época. p. 296<br />

52 COUTINHO, Afrânio, Op. cit. p. 173<br />

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