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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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ações ou até nas falas que escutamos ao longe. É belíssimo esse pensamento desenvolvido no<br />

poema, de sentirmos a raça humana mais pura e elevada espiritualmente nas “esquinas, nos<br />

cafés” e ainda “na música inumerável dos becos”. Percebamos a poeticidade atingida nos<br />

referidos versos, pois que nem mesmo a algazarra dos inumeráveis transeuntes conversando e<br />

andando pelos becos das cidades seria motivo de aborrecimento para aquele que escuta e<br />

depreende todo o movimento; antes disso, tal vozerio é dado no poema como “música”. Será<br />

de fato um novo tempo, em que tudo será mais belo, harmonioso e feliz.<br />

A poesia de Bueno de Rivera é mais que uma arte; ela é a busca da transcendência<br />

do próprio ser humano. Essa característica é o que de fato plenifica o homem, pois segundo a<br />

concepção de Batista Mondin,<br />

Uma das constantes do comportamento humano é a de superar e<br />

transcender sistematicamente o comportamento dos animais: o homem sobrepuja os<br />

animais no pensamento, na liberdade, no trabalho, na palavra, na diversão, na<br />

técnica e em tantas outras coisas.<br />

Aquilo que é, porém, mais singular, em todas as expressões do agir<br />

humano, é a presença de outro tipo de superação, de transcendência, que não está<br />

voltada mais para o exterior, para os outros seres vivos, mas isto sim, para o<br />

interior, para o próprio homem; este, em tudo o que faz, diz, pensa, quer, deseja,<br />

demonstra sua constante tentativa em superar-se a si mesmo. O homem é<br />

essencialmente marcado pela autotranscendência. 68<br />

Mais que o noscere te ipsum, será o questionamento sobre a sua própria condição<br />

existencial-ontológica, é a procura efetuada pelo poeta no intuito de superar-se a cada<br />

descoberta, iniciando com os questionamentos sobre si, adentrando em sua mente e em sua<br />

intimidade, e realizando-se posteriormente como um ser em toda a sua plenitude, inserido em<br />

um meio social. E falamos em “ser” na acepção heideggeriana, para quem<br />

Ser, pelo qual é assimilado todo ente singular como tal, ser significa presentar.<br />

Pensado sob o ponto de vista do que se presenta, pre-sentar se mostra como<br />

pre-sentificar. Trata-se, porém, agora de pensar este pre-sentificar propriamente, na<br />

medida em que é facultado pre-sentar. Pre-sentificar mostra-se no que lhe é próprio<br />

pelo fato de levar para o desvelamento. Pre-sentificar significa: desvelar, levar ao<br />

aberto. No desvelar está em jogo um dar, a saber, aquele que no presenti-ficar dá o<br />

pre-sentar, isto é, ser. 69<br />

O pensamento de Heidegger é por nós analisado pela longitude alcançada por sua<br />

filosofia enquanto busca do entendimento sobre o ser humano. O ato de apresentar-se a si<br />

mesmo, de retirar os véus que encobrem aspectos da nossa existência, ou melhor, levar o<br />

68 MONDIN, Batista. Introdução à filosofia. p. 64-5<br />

69 HEI<strong>DE</strong>GGER, Martin. Vida e obra. p. 259<br />

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