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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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As obras de Rivera trazem, assim, os lados positivo e negativo da vida, mostrando-<br />

nos por vezes a prevalência deste em detrimento daquele. Em poemas como “Ode ao<br />

Vencido”, por exemplo, temos que os pontos positivos só são sentidos quando não temos<br />

maturidade necessária para entender a vida. É o que deixa evidente a terceira estrofe:<br />

Ao teu lado, entretanto, havia nimbos,<br />

aves voando sem rumo, uma serpente<br />

dançando junto ao berço. O vinagre da vida<br />

te esperava nas núpcias. (MS, p. 31)<br />

164<br />

Após ter falado sobre a beleza da existência de um certo alguém a quem o título do<br />

poema se reporta como o “vencido”, temos a supra-citada estrofe, com a presença de um caos<br />

geral em torno deste ser, uma vez que no poema temos as aves, seres que sabiamente<br />

detectam as temporadas chuvosas, levantando vôo em bandos, aparecendo no poema “voando<br />

sem rumo”; além disso, ainda temos o perigo vital apresentado pela presença do ofídio frente<br />

à indefesa criança. O eu lírico, por sua puerilidade, não imagina o perigo que corre desde<br />

aquele exato momento, em seu “berço”; somente quando a maturidade lhe vier com os anos, é<br />

que vai entender os sofrimentos existentes na vida. O poeta não deseja se mostrar, no poema,<br />

contrário ao casamento; esse “vinagre” que irá ser encontrado nas futuras “núpcias” revelam<br />

apenas os padecimentos com que geralmente o homem se depara, após assumir<br />

responsabilidades como o matrimônio, a paternidade, etc.<br />

A quinta e última parte do poema é a mais drástica, mostrando a degradação moral<br />

e sentimental deste “vencido” pela vida:<br />

O desespero cresceu com o teu delírio.<br />

Hoje buscas a paz e encontras o insondável.<br />

O mistério te envolve como nuvens,<br />

te arrasta aos abismos, te conduz<br />

pelos caminhos vagos do impossível.<br />

És único. Entre todos o maldito,<br />

o sal das bodas, o renegado, o estranho.<br />

Ao sol do teu infortúnio sem memória,<br />

os pássaros sofrem, a água se inflama,<br />

os lírios se entristecem como enfermos.<br />

Brotas do solo como a erva, o pasto<br />

dos tormentos. És a raiva, o fogo,<br />

o mar ardendo, o céu vermelho, o louco. (MS, p. 33)<br />

Analisando o poema na íntegra, percebemos que nele há uma oscilação entre os<br />

momentos bons e maus na vida desse eu lírico. Na estrofe selecionada, temos o lado negativo<br />

a interferir na sua vida, atestado por vários adjetivos referidos à voz do poema, como:

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