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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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íntegra. Entretanto, somos capazes de afirmar que o autor buscou a água como um meio em<br />

que se encontrava o eu lírico de seus poemas tão somente como uma forma metafórica de<br />

expressar aquilo que ele próprio sentia e/ou percebia em relação ao mundo. Primeiramente<br />

porque, à semelhança de Brás Cubas na obra machadiana, quem narra não é “um autor<br />

defunto, mas um defunto autor”, 97 e isso faria com que tivéssemos um morto a recitar o<br />

poema, ou melhor, o eu lírico é visto como alguém que já morreu; contudo, percebemos ao<br />

final do poema ser este um estado de espírito do eu lírico, similar à morte não efetiva, e sim<br />

moral do personagem de Machado de Assis. E depois porque o poema acaba tomando<br />

proporções diversas, com várias cenas metafísicas, fazendo assim com que percebêssemos o<br />

caráter idealístico adotado pelo poeta.<br />

Inicia-se o poema com o depoimento de alguém que sumiu por entre as águas, não<br />

tendo o seu corpo sido encontrado. É interessante a sua constituição, pois a voz do poema vai<br />

narrando toda a busca empreendida pelos amigos no intuito de encontrá-lo, enumerando os<br />

equipamentos por estes utilizados na busca pelo afogado, sendo a procura, contudo, em vão.<br />

A terceira estrofe, enigmática, faz uma comparação entre dois animais – o<br />

“pássaro” e “o galo da manhã” – e os amigos do “afogado”. Através de uma análise<br />

hermenêutica, percebemos que o poeta tencionou nesse momento indicar que simples animais<br />

eram mais capazes de desvendar mistérios do que aqueles homens que ali o procuravam. No<br />

caso do “pássaro”, entendia ele “os caminhos do mar”, mesmo sendo difícil a localização de<br />

alguém em tal meio, justamente pela grandeza desse ambiente e pela ausência de pontos<br />

referenciais; e no caso do “galo da manhã”, conhecia este a “estrela”, ou seja, identificava a<br />

hora certa, cantando naquele exato momento, somente se baseando no percurso de um astro<br />

celeste. Enquanto isso, seus amigos, seres racionais, dotados de equipamentos capazes de<br />

guiá-los nesse meio aquático, eram incapazes de desvendar uma face “sob as águas”.<br />

Adotando os postulados do crítico Umberto Eco para o que seja uma obra aberta,<br />

entendemos ter o poeta se utilizado dessa metáfora do homem afogado como uma<br />

representação para o ser sufocado pelos problemas do cotidiano, em um estado psicológico<br />

abalado, possivelmente depressivo, onde ele iria, então, fazer a associação entre o<br />

conhecimento dos animais, capazes de ler os mínimos signos da natureza e interpretá-los, e a<br />

incapacidade de todos aqueles seres que se dizem sapiens, que não conseguiam entender o<br />

problema por que ele passava.<br />

97 ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. p. 11<br />

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