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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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procura da própria imagem, refletida na superfície do mundo físico. Tudo se passa<br />

como se o poeta apenas estivesse interessado nos seres e coisas que fossem a<br />

emanação do seu próprio “eu”. Por outros termos: a carga do “não-eu” que pode<br />

aparecer na poesia sofre um processo transformador provocado pelas vivências do<br />

poeta de forma a se operar entre o “eu” e o “não-eu” uma íntima e indestrutível<br />

fusão. O mundo subjetivo e o objetivo aderem-se, imbricam-se, formando uma só<br />

entidade, subjetivo-objetiva, com a forçosa predominância do primeiro.” 1<br />

No caso de Rivera, este adota um posicionamento que vai do eu ao não-eu, ou<br />

melhor, do mundo interior ao exterior; busca uma perscrutação do íntimo do ser humano, das<br />

imagens que povoam sua psique, em uma análise vertical, como se estivesse “vendo o poço”<br />

(MS, p. 12), ou melhor, sua própria alma, indo logo em seguida para o “Homem sismógrafo/<br />

no poço, no mundo” (MPBR, p. 64), isto é, para aquele que registra as agonias e tristezas<br />

humanas de uma forma geral. O poeta mineiro oscila, então, entre a subjetividade e a<br />

objetividade, na procura de desvendar o âmago do seu próprio ser e inseri-lo no mundo,<br />

resultando daí sentimentos os mais diversos. Analisaremos a poesia de Bueno de Rivera a<br />

partir do seu caráter ontológico, buscando desvendar os mecanismos por ele utilizados para a<br />

inserção do seu eu nos poemas, bem como a sua visualização no meio social.<br />

Entendemos que a literatura, como obra de arte que é, basta-se em si mesma,<br />

válidas sendo as palavras do crítico Vítor Manuel sobre as suas funções:<br />

É relativamente moderna a consciência teorética da validade intrínseca e,<br />

consequentemente, da autonomia da literatura, isto é, a consciência de a literatura –<br />

como qualquer outra arte – possuir os seus valores próprios, de construir uma<br />

actividade independente e específica que não necessita, para legitimar a sua<br />

existência, de se colocar ao serviço da polis, da moral, da filosofia, etc. 2<br />

Apesar desse entendimento, compreendemos também a consciência que alguns<br />

escritores têm do poderoso veículo instrucional que eles possuem em mãos, através da<br />

palavra. Por essas razões, sem desprezar valores extraliterários, adotaremos em nosso estudo<br />

os métodos estilístico – para se entender os recursos artísticos e a essência das expressões pelo<br />

poeta utilizadas – e hermenêutico – pois é a hermenêutica “a ciência ou a arte da<br />

interpretação” 3 – quando da análise literária, pois assim seremos capazes de estudar a forma e<br />

o conteúdo dos poemas, além de poder encontrar a visão global de suas obras, ou melhor, o<br />

intento do escritor na sua arte poética. Buscaremos comprovar a procura que apresentou<br />

Rivera pelo desenvolvimento de uma poesia ontológica, sendo nós guiado pelos preceitos do<br />

filósofo alemão Martin Heidegger, para quem “A linguagem é a casa do ser. Nesta habitação<br />

1 MOISÉS, Massaud. A criação literária. p. 32<br />

2 MANUEL, Vítor. Teoria da literatura. p. 81-2<br />

3 EAGLETON, Terry. Teoria da literatura. p. 91<br />

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