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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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na água infinita.<br />

As ondas são doces,<br />

o céu é tranqüilo,<br />

mas um corvo sonha<br />

na praia em silêncio. (MS, p. 09-11)<br />

119<br />

De extrema complexidade interpretativa, vem o poema selecionado trazer um<br />

ambiente onírico, onde as imagens surgem desconexas, de forma ilógica. Somente através de<br />

uma análise conotativa pode-se captar o seu significado, que muito se distancia do real e mais<br />

se aproxima de uma metafísica praticamente absurda. Já na primeira estrofe temos a<br />

associação de um substantivo abstrato, “pensamentos”, com uma ação não condizente com a<br />

do referido elemento, que é o ato de mover-se; além disso, ainda temos esse “movem-se”<br />

associado a uma palavra com função adjetiva, “vermelhos” – fato que sintaticamente falando,<br />

é inconcebível, visto que essa classe gramatical serve para qualificar os substantivos, e não os<br />

verbos. Isso tudo pode parecer muito estranho, mas entendendo a existência biopsíquica<br />

revelada através dos signos criados por Rivera, bem como a aproximação entre a sua poesia e<br />

a daquelas que se valeram do símbolo como seu tour de force, compreendemos que tudo não<br />

passa de uma associação mental criada pelo poeta, com fundo nas imagens pelo mesmo pré-<br />

selecionadas. Através do comparativo apresentado no terceiro verso ainda da primeira estrofe,<br />

descobrimos a trama feita pelo poeta de Santo Antônio do Monte: a sua obsessão pela água<br />

fez-lhe escolher, primeiramente, um ser aquático, o peixe; pelas características desse ser, em<br />

especial sua mobilidade, isto é, por causa da rápida locomoção desse animal em seu habitat,<br />

Rivera imagina os seus “pensamentos” ágeis como os referidos seres. Admitindo ter tais<br />

peixes a coloração vermelha, teríamos, por conseguinte, a associação havida nos dois<br />

primeiros versos.<br />

É em virtude de tais motivos que detectamos uma aproximação entre a poesia de<br />

Rivera e a arte desenvolvida pelos surrealistas, apaixonados que foram pelas experiências<br />

intuitivas. As imagens criadas na arte surrealista tinham, mais que o desejo de interpretar o<br />

mundo por meio de um amálgama de imagens disformes e desconexas, a vontade de<br />

reclassificar as nossas experiências. 129 É assim que:<br />

Em lugar do criador de formas, o surrealismo postulava uma nova imagem do<br />

artista, como um indivíduo caracterizado pela sua abertura ao acaso, às induções do<br />

inconsciente e dos impulsos interiores, acolhendo tudo o que ocorresse de maneira<br />

espontânea. 130<br />

129 SHORT, Robert. In: BRANDBURY, Malcom e Mc FARLANE, James. Modernismo: guia geral. p. 245<br />

130 Ibidem. p. 237

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