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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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oi de corte<br />

sonso boi. (PP, p. 09)<br />

Rivera procura, no poema, falar sucintamente sobre a questão do gado bovino em<br />

sua terra, o estado de Minas Gerais. Essa seria a “Região dos ubres”, ou seja, das tetas das<br />

vacas, dada a intensa criação bovina ali havida. Assim sendo, esse é o local onde “reina a<br />

vaca”, uma vez que era (e ainda continua sendo) elevado o número de animais da referida<br />

espécie criados nesse estado da federação. Contudo, é ali também que “sofre o boi”, pois esse<br />

animal foi utilizado tanto para suprir as necessidades alimentícias da população já desde o<br />

tempo em que as minas da região foram descobertas e para lá foi incontável número de gente,<br />

quanto para o trabalho físico, uma vez que é o boi um animal de grande força. A vaca é vista<br />

pelo poeta como a “mãe do touro, mãe do ouro, mãe dos homens”; a primeira afirmativa não<br />

necessita de explicações, visto ser uma questão biológica; a segunda seria porque, como já<br />

havíamos afirmado, a leva populacional que se deu em direção às minas na região centro-<br />

oeste brasileira só foi possível graças à criação bovina, sendo por isso a vaca considerada<br />

como a “mãe” do produto ali descoberto; e a terceira seria, então, em virtude da segunda, pois<br />

só assim foi possível a permanência dos seres humanos, que estavam em tão grande número,<br />

naquelas paragens.<br />

Apesar de a última estrofe trazer a figura do boi como um animal sofredor,<br />

indicando ser ele criado para o trabalho forçado e para a morte, o último verso apresenta um<br />

adjetivo que nos faz retroagir na análise poética e pensar um pouco mais sobre a passividade<br />

desse animal: para Rivera, ele é um “sonso boi”, ou seja, um animal dissimulado, que finge<br />

astutamente ter determinada característica, enquanto não a tem de fato. Provavelmente quis o<br />

poeta, com isso, dizer que o boi não é tão indefeso quanto aparenta ser, como se o animal<br />

estivesse aguardando o momento de agir em defesa própria.<br />

Em todo o mundo, o boi remete, basicamente, às mesmas qualidades: “Força,<br />

paciência, submissão, trabalho duro e constante”. 108 É um animal dócil, porém robusto. Rivera<br />

utilizou-o de forma iconográfica não somente no intuito de realçar-lhe as características mais<br />

marcantes, mas também para aproximá-lo dos seres humanos. É assim que acontece em “O<br />

Açougue”, poema que transcrevemos agora:<br />

Apenas na sombra tranqüila<br />

o açougue aceso.<br />

Os pés do boi sem caminhos,<br />

108 TRESID<strong>DE</strong>R, Jack. O grande livro dos símbolos. p. 52<br />

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