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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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diferença entre os dois exemplos: enquanto que no poema de Manuel Bandeira a morte se<br />

apresenta como uma passagem para outro plano, no de Rivera a morte da mãe traz o fim<br />

existencial desta – fato que leva consigo não apenas a vida do ser, mas, de maneira<br />

sentimental, a própria “infância” do órfão.<br />

O eu lírico do poema do poeta pernambucano, trazendo um forte veio<br />

autobiográfico, vem em vários exemplos atestando a sensibilidade do artista diante do mundo,<br />

das agruras da vida. Comprova o nosso pensamento o poema “O Bicho”, que, agora<br />

mostrando uma visão mais humanística, depreende o lado sórdido e precário da vida humana<br />

em sociedade:<br />

Vi ontem um bicho<br />

Na imundície do pátio<br />

Catando comida entre os detritos.<br />

Quando achava alguma coisa<br />

Não examinava nem cheirava:<br />

Engolia com voracidade.<br />

O bicho não era um cão,<br />

Não era um gato,<br />

Não era um rato.<br />

O bicho, meu Deus, era um homem. 50<br />

Bandeira atesta, de modo realista, uma situação em que um ser humano é visto<br />

similarmente a um animal. Isso porque a pobreza a que este estava reduzido obrigava-o a<br />

catar “comida entre os detritos” – condição que desumaniza esse ser pelo aspecto humilhante<br />

e voraz com que agia. O poeta procura retratar a dor humana, delatando os sofrimentos por<br />

que passava (e ainda hoje passa) parcela da população. Assim como ele, também Rivera<br />

entendia o que era esse sofrimento dos seus semelhantes. Chegando a afirmar que “A angústia<br />

do povo acende o lume/ de nossos poemas solidários” (LP, p. 110), mostrava ele ter<br />

compaixão pela raça humana. De fato, vários poemas seus trazem sempre um eu lírico<br />

atormentado por se compadecimento com a dor alheia, o que o faz buscar uma poesia<br />

participante, e assim, próxima do que também fez Manuel Bandeira em sua arte poética.<br />

Apesar desse espírito enternecido, Rivera diferencia-se um pouco do autor de<br />

Carnaval por trabalhar mais a poesia lírica, por se entregar mais facilmente aos temas<br />

introspectivos e por buscar construções várias que por vezes beiram o surrealismo, em virtude<br />

do grande valor por ele dado ao subjetivismo. Não somente ligado a Bandeira, essa<br />

50 Ibidem. p. 283-4<br />

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