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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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apresentaram, em seu fazer literário, uma marca terminantemente pessoal. É o que afirma<br />

Afrânio Coutinho:<br />

122<br />

A regra suprema é a inspiração individual, que dita a maneira própria de elocução.<br />

Daí o predomínio do conteúdo sobre a forma. O estilo é modelado pela<br />

individualidade do autor. Por isso, o que caracteriza é a espontaneidade, o<br />

entusiasmo, o arrebatamento. 134<br />

Bueno de Rivera destaca, portanto, o seu lado romântico em “O Bêbado no<br />

Cemitério”, expondo um eu lírico em que a razão abandona-o para que o poema apresente<br />

mais acentuadamente o caráter fragmentário de pensamentos diversos, vertendo para um<br />

pessimismo fatalista de cenas lúgubres.<br />

Quando o poema inicia, mesmo diante da ausência de qualquer pontuação, temos<br />

uma leitura de ritmo mediano, onde são possíveis construções relativamente grandes, como<br />

esta, que não necessitaria de pontuação alguma entre suas partes: “longos pensamentos<br />

desfiando nas mãos que procuram apoio no espaço”. Após o momento em que o eu lírico<br />

percebe que está chorando e profere isto, o ritmo da leitura torna-se cada vez mais rápido,<br />

pois temos primeiramente construções com um substantivo e um adjetivo, e logo em seguida<br />

somente substantivos – “recalques casas copos chopes luar rosas ciúmes” –, fazendo com que<br />

leiamos o que está escrito muito rapidamente. Mesmo que depois tenhamos construções<br />

maiores, após continuar a leitura em ritmo mais acelerado permanecemos assim até o final do<br />

poema.<br />

O terceiro livro de poesia de Rivera não trabalhou muito as características neste<br />

subtópico analisadas; distando vinte e três anos da segunda obra, Luz do pântano, Pasto de<br />

pedra vem com uma nova estrutura, em muito parecida com o concretismo que sucedeu a<br />

Geração de 45. Porém, o ilogismo e o surreal que impregnaram Mundo submerso e Luz do<br />

pântano são de fato merecedores de destaque, valendo as páginas aqui dissertadas. Várias são<br />

as passagens em que uma nova estrutura é atingida pelo simples prazer de fazer valer a voz<br />

interior do poeta, como em “Visita aos Amigos Doentes”, onde temos: “O cheiro do incenso/<br />

na sombra das madres” e depois: “o vermelho na idéia” (MS, p. 38), ou outras como: “mulher<br />

de asas/ dançando no quarto” (MS, p. 39), além de outras construções mais que denotam a<br />

morte próxima a vários seres humanos conhecidos pelo eu lírico, que neles vê as faces e as<br />

associa a “frutos murchando”, em uma atitude sinistra de quem presencia a morte do outro.<br />

Poderíamos ainda citar outras passagens mais para comprovar o nosso argumento, como:<br />

134 COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. vol. 3. p. 10

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