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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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sobreposição de imagens e pensamentos de acordo com a vontade do eu lírico, como se<br />

fossem flash-backs que foram então anotados em forma de poema. Essa falta de virgulação,<br />

portanto, apresenta a funcionalidade de sugerir a embriaguez do eu lírico, com as imagens<br />

passando muito rapidamente pelos seus sentidos. Ao observarmos as primeiras palavras,<br />

percebemos sem esforços a utilização, feita pelo poeta, da cor branca, tanto pela cor em si que<br />

no poema aparece, quanto por elementos que a ela remetem, como “mármores” e “espumas”.<br />

Essa atitude em muito aproxima o poema em análise à poesia do simbolista Cruz e Sousa, que<br />

muito explorou essa cor em seus poemas, como se evidencia no início de “Antífona”, poema<br />

de abertura de Broquéis:<br />

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras<br />

De luares, de neves, de neblinas!...<br />

Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...<br />

Incensos dos turíbulos das aras... 132<br />

121<br />

Assim como nos poemas do príncipe negro, em que “Repassam por todo o livro<br />

umas impressões frias e alvas de neves e luares”, 133 também no poema em questão temos um<br />

ambiente em que o vago e o impreciso estão em toda parte, onde as impressões visuais se<br />

fazem notórias. Rivera, entretanto, não fica somente na cor branca; as cores, neste poema,<br />

funcionam para indicar o estado de espírito do eu lírico ao passo que os seus pensamentos vão<br />

delineando o seu sentimento e o transtorno mental deste homem que se encontra, como o<br />

título indica, em estado de embriaguez. É assim que ao passo que as cenas mórbidas aparecem<br />

no poema, como a mulher “louca no espelho”, os filhos “mortos”, o seu choro, as cores ficam<br />

mais vivas, mais rubras, denotando “sangue”, elemento que aparece antes de uma série de<br />

acontecimentos desesperadores.<br />

O poema em análise tem, indubitavelmente, um caráter crepuscular, como se<br />

estivéssemos diante de um sonho. Contudo, o contexto explica-nos o porquê de tal feição: o<br />

eu lírico, estando bêbado, sofre um distúrbio psíquico em que as imagens de cenas por ele um<br />

dia vividas vêm à tona, fazendo com que as lembranças ajam de forma bem próximas e<br />

confusas. Pelo próprio estado em que ele se encontra, temos uma forte ligação com o estilo de<br />

vida apresentado por parcela dos poetas românticos de todo o mundo ocidental – aqueles que<br />

se aproximaram do individualismo marcante do inesquecível poeta inglês Lord Byron.<br />

Amantes da vida boêmia e detentores de uma melancolia irreparável, os referidos poetas<br />

132 CRUZ E SOUSA. Broquéis. p. 31<br />

133 CRUZ E SOUSA. Biblioteca da literatura brasileira. p. 118

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