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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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Em todo o trecho escolhido temos o ataque aos mais variados segmentos que,<br />

segundo o autor, beneficiam-se de alguma forma com essa pecúnia. Aqui temos o ataque<br />

exacerbado desde a política à religião. O “diplomata” aí é colocado como aquele que vive em<br />

Paris, cidade considerada como uma das mais belas do mundo, sendo, portanto, detentor de<br />

regalias e vivendo em um local que para muitos seria um sonho; o “catedrático”, bem como o<br />

chapéu cardinalício”, por receberem os donativos dos povos, além de serem pagos pelos<br />

cofres públicos, são aqui também inseridos; e a “cadeira na assembléia” e o “ar<br />

governamental” no poema se encontram por fazerem justamente a política com o dinheiro<br />

advindo do gado leiteiro, como desde o início do século passado já se evidenciava, chegando<br />

a tornar-se um clichê o acordo político feito entre a cidade de São Paulo (produtora de café) e<br />

Minas Gerais (criadora de gado bovino), o qual era a política do “café-com-leite”.<br />

Também poderíamos citar outro poema, “Ladainha do Ó”, onde temos, como<br />

evidenciado no título, uma perfeita ladainha (rito religioso em que o nome de um santo é<br />

pronunciado por vez, enquanto a população de fiéis responde em coro: “orai por nós”), só que<br />

nesse caso de forma hilária por trazer seres e elementos da região mineira. Quando em um de<br />

seus momentos temos: “Ó escravos mortos na mina/ Odiai por nós”, observamos a figura do<br />

negro escravo, muito comum na região das minas auríferas, levados por senhores que os<br />

compravam aos traficantes para o trabalho braçal. Muitos escravos morriam soterrados nas<br />

minas, vitimados por doenças, fome, ou mesmo em virtude dos castigos corporais. Daí a<br />

jocosidade do poema, em pedir-lhes que odeiem “por nós”.<br />

O poema perpassa por inúmeros elementos existentes em Minas Gerais, como<br />

capelas, igrejas, pinturas, rio, chafariz, teatro, museu, personagens históricos, enfim, por<br />

basicamente toda a história de Minas, tendo o coro da ladainha um pedido particular a fazer a<br />

cada um dos elementos lembrados, de onde deriva toda a hilaridade do poema. Note-se, por<br />

exemplo, os versos: “Ó áureo Museu do Ouro/ Ostentai por nós”, em que temos a sátira em<br />

relação à riqueza aí encontrada. E esta se faz mais evidente ainda pelo pleonasmo no primeiro<br />

verso contido, enfatizando o esplendor do museu: apesar deste ter como adjunto adnominal a<br />

expressão “do Ouro”, vem antecedido do adjetivo “áureo”.<br />

Cita também o Borba Gato, paulista desbravador dos sertões brasileiros e<br />

descobridor de minas auríferas, que tem no poema a seu nome acrescido a locução adjetiva<br />

“de botas”, fazendo assim alusão ao conto infantil do escritor francês Charles Perrault,<br />

intitulado O Gato de Botas. Temos também os “anjos do Aleijadinho”, ou melhor, imagens de<br />

anjos feitas por esse artista plástico de Minas que, apesar da doença que lhe desintegrava o

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