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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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130<br />

O Eu, eterna vontade atuante, opõe a si mesmo barreiras para poder<br />

superá-las, para poder atuar e lutar contra o mundo, impondo a sua liberdade moral<br />

em face das leis da natureza. Decantar dentro de si o Eu infinito é a aspiração eterna<br />

do homem empírico, limitado pelas necessidades naturais impostas pela produção<br />

do Eu absoluto. Através do esforço moral incessante, o homem temporal deve<br />

procurar tornar-se o que no fundo desde sempre é: Eu puro, livre, divino. 144<br />

Bueno de Rivera busca, em sua poesia, um sentido para o seu ser; procura entender<br />

a sua essência, o que ele realmente é, segundo a visão de Rosenfeld. É por isso que, por vezes,<br />

utiliza-se de Leitmotive para expressar simbolicamente o estado de espírito em que ele,<br />

naquele exato momento, se encontrava. Desde Mundo submerso que Rivera traz pistas de<br />

certas passagens de sua própria vida deixadas em seus poemas, como as por nós detectadas<br />

em “O Poço” – poema em que há uma perscrutação vertical de si mesmo, apresentando, por<br />

conseguinte, algumas reminiscências de sua infância. Reproduzimos na íntegra o referido<br />

poema, para posterior análise:<br />

Amigos, silêncio.<br />

Estou vendo o poço.<br />

No fundo profundo eu me vejo<br />

presente. Não é<br />

a cacimba de estrelas. Amigos, é o poço.<br />

Apenas o poço. A vela na lama<br />

como um dedo de fogo.<br />

Ânsia de afogado,<br />

suspiros em bolhas.<br />

O susto no sono.<br />

A sombra descendo sobre os aposentos,<br />

o suor nos espelhos. A sombra<br />

abafando a criança, a sombra fugindo.<br />

A mão pesada sobre a boca torta,<br />

o grito parado no rosto.<br />

O copo d’água em goles trêmulos...<br />

Amigos, silêncio.<br />

Eu vejo o poço.<br />

O vento da hora morta. Os avós sorrindo,<br />

tão meigos sorrindo. E a morte tão viva!<br />

(Minha mãe não esperou a guerra,<br />

não sabe notícias do mundo.<br />

Não pergunta, não responde).<br />

144 ROSENFELD, Anatol. Texto/contexto. p. 163<br />

A tosse acordando os irmãos,<br />

e eu, pela madrugada, carregado nos ombros de meu pai. (MS, p. 12-3)

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