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O EU ÍNTIMO E O EU SOCIAL NA POESIA DE BUENO DE RIVERA

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170<br />

empurram umas às outras, não são todos seres humanos com as mesmas qualidades<br />

e aptidões, e com o mesmo interesse em serem felizes? 169<br />

Esse fato de não encontrar afetividade nos seres humanos dá à voz do poema em<br />

análise uma visão pessimista da vida em sociedade, pois mostra que os homens acabam por<br />

verter “ódio” pelos seus semelhantes, bem como ter “medo” deles. Perdendo, aos olhos do<br />

poeta, sentimentos dos que mais nos humanizam, como a “ternura” e o “afeto”, o poema<br />

refere-se aos seres humanos, na penúltima estrofe, não mais como homens, e sim como<br />

“Corpos”, ou melhor, coisas, pois não apresentam “nenhum afeto”.<br />

Em vários poemas Rivera menciona o trânsito da cidade grande – evolução urbana<br />

que serviu de mote para inúmeros poetas. Para o poeta mineiro, o trânsito também era, além<br />

de magnífico, grotesco e tremendo. Em “Os Destinos Urbanos” este fator é evidenciado:<br />

O tráfego é previamente fixado<br />

e todos os sensatos vivem seu minuto.<br />

Onde está o louco para um discurso<br />

sobre os acontecimentos futuros? (LP, p. 86)<br />

De maneira sóbria, Rivera indica a necessidade de se adequar àquele movimento<br />

cronometrado, que mais parece transformar o homem em máquina do que deixá-lo inserido no<br />

processo civilizatório. Contudo, é a própria voz do poema quem chama os seres humanos que<br />

se adequam a esse ritmo de “sensatos”, deixando clara (mas também mostrando com isso<br />

ironia) a obrigação de segui-lo. O trecho, de maneira nostálgica, ainda faz referência ao<br />

“louco”, que entendemos ser uma espécie de “profeta”, pelo poder que ele apresenta de falar<br />

“sobre os acontecimentos futuros”. Tais homens, entretanto, parecem não mais realizar suas<br />

profecias à época descrita, provavelmente por estarem desacreditados em meio à sociedade<br />

tecnocrata do poeta.<br />

A referência ao “louco” é algo muito interessante, pois indica a necessidade da<br />

visão lírica, hermética, em um mundo que tendia para a racionalidade, para a objetividade.<br />

Essa característica foi captada e trabalhada por inúmeros outros poetas da geração modernista,<br />

assim como vários críticos literários, como Salete Cara, que, percebendo a dialética da<br />

objetividade-subjetividade na poesia moderna, profere na introdução de seu A poesia lírica:<br />

O poeta moderno, jogado na grande cidade cosmopolita percebe, com<br />

nitidez cada vez maior, os contornos ilusórios da antiga crença: a crença numa<br />

relação, plena de sentido, entre poeta (o “eu” da poesia?) e realidade (objetiva ou<br />

169 BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. p. 114-5

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